Lição de amor
Ananda foi muito querida antes de nascer. Os avós paternos e maternos se desdobraram para proporcionar a neta o melhor enxoval. Brinquedos variados encheram o quarto. Todos aguardaram com ansiedade o nascimento. A primeira a notar que havia algo diferente com o bebê foi à avó materna. A menina não chorava e passava o tempo todo dormindo. Era preciso acordá-la para alimentá-la. Aos quatro meses notaram que Ananda continuava com o mesmo comportamento de recém-nascido. Os pais decidiram falar sobre isso com o pediatra. Exames foram feitos e descobriram que ela tinha retardo mental. Ao serem informados, os familiares se afastaram. Para alguns, Ananda nem deveria ter nascido, se não era uma criança perfeita. O pai da menina durante algum tempo a aceitou, mas na medida em que ela ia crescendo foi ficando incomodado. Era desagradável vê-la com a língua fora da boca, salivando e fazendo caretas estranhas. Aos quatro anos Ananda começou a andar, mas não se alimentava sozinha e nem falava. Seus grunhidos roucos deixava seu pai nervoso e ele começou a passar cada vez mais tempo fora de casa. A mãe amava a garotinha de forma incondicional. Por passar todo o tempo cuidando da filha, não notou que o marido estava se afastando e um belo dia ele simplesmente comunicou que ia embora. A mulher ficou sozinha com as despesas e os cuidados com menina. Começou a costurar para fora. Para evitar que a criança se machucasse ela comprou um cercadinho e enquanto costurava cantava musicas infantis e contava histórias. Nesses momentos Ananda ficava quietinha com o dedinho na boca embalada pela voz doce de sua mãe. Os anos foram se passando e por não se adaptar em nenhuma escola e não conseguir aprender nada, a garota passava todo o tempo em casa, assistindo a mãe costurar. Quando Ananda completou treze anos sua mãe adoeceu gravemente. Quase não conseguia sair da cama e as costuras foram se acumulando. Certa manhã ao tentar se erguer para terminar um vestido de formatura que a freguesa buscaria à tarde, a pobre mulher enfraquecida caiu ao chão desmaiada. Acordou horas depois deitada em sua cama. Da sala vinha o barulho da maquina de costura. Gritou pela filha e nesse momento Ananda entrou no quarto trazendo nos braços o vestido de formatura e soltando gritinhos felizes. Chorando a mãe pegou o vestido e viu que esse havia sido costurado com perfeição. A menina que nunca falara que não foi bem aceita na escola por causa do seu problema, aprendera a costurar apenas observando a mãe trabalhar. Uma noite a mãe notou que Ananda estava rabiscando atenta alguma coisa em uma folha de papel. A filha nunca conseguira sequer segurar um lápis antes. Curiosa ela se aproximou, e fitou abismada o desenho feito pela menina. Era o traçado de um lindo vestido. Desse dia em diante as duas formaram uma parceria. Ananda desenhava e sua mãe costurava. Em pouco tempo elas ficaram conhecidas e ganharam muito dinheiro. Anos depois, o pai de Ananda envelhecido e adoentado pela bebida, procurou a esposa e pediu para voltar. A mulher cheia de mágoa o mandou embora, mas nesse momento a porta da mansão se abriu e Ananda surgiu sorridente. O pai olhou encabulado para a moça bonita que a filha se tornara. O rostinho infantil se iluminou e com grande dificuldade, a menina falou uma palavra pela primeira vez: PA... pai 24/10/2012