Dia com cara triste

Hoje o dia amanheceu melancólico, sei lá, pode ser que seja eu, mas há um silêncio sombrio, algo que não se vê, mas se sente. Pergunto-me se o dia, ou a energia que dele emana, pode intervir no que sinto, sendo que o sentimento é meu e dia não é gente, não sente. Apenas acorda e dorme com as 24 horas inexatas de sempre. Quem muda sou eu e o que me ronda. Sou ser humano, choro, rio, tenho raiva, sede e fome. Mas e esse dia com cara triste, por que ele fez isso comigo, alterou meu eixo, ontem estava tão feliz!

É estranho, dizem que os ocidentais são egocêntricos. Do ponto de vista ocidental, para avaliar o estado de espírito de alguém, fixa-se na pessoa, não no que a cerca. Já os orientais, avaliam o contexto, tudo que está à volta para formular uma opinião sobre o sujeito que ri ou chora. Então, sendo ocidental, não deveria deixar que um dia, com cara de triste, intervisse em meus sentimentos, o meu ego nem deixaria percebê-lo. Serão mesmo verdadeiras essas teorias, ou será que no fundo sou uma oriental que nasceu no lugar errado. Verdade que já me acharam parecida com a Yoko Ono, mas, desde que nasci, estou mais para indígena do que para japonesa. Talvez seja isso então, sou índia e a natureza é que controla o que sinto. Integração e cumplicidade.

Avaliando profundamente, talvez, nós seres humanos, nos deixamos influenciar por dias de sol e dias de chuva, pois a nossa origem é animal. Somos seres da natureza, apesar de hoje vivermos trancafiados entre paredes. O que da terra emana nos influencia, pois, mesmo que tentemos negar, estamos integrados a ela. O nosso “captador de energia” inconsciente é parte da nossa essência. Antes, lá nos primórdios, talvez o usássemos para outros fins, mas com a evolução, nos tornamos seres racionais e subvertemos a sua utilidade. Hoje, apenas sentimos coisas que não sabemos precisar e acabamos culpando o dia.

No fundo é só uma desculpa. A tristeza e felicidade estão em nós, nos acompanham pelas 24 horas inexatas do dia. Há dias, porém, uma resolve acordar mais cedo e toma conta. Às vezes, nos domina um dia inteiro, outras, apenas uma parte. Eu sei que tenho poder de driblá-las e mudar o que sinto, pois, se ambas são dualidades que coexistem, se eu convidar a felicidade para tomar o café da tarde, talvez a tristeza fique sem graça e se recolha em um canto. Contudo, há dias, como hoje, com cara de triste, que é difícil, tentei no almoço e não tive sucesso. Mas, não vou desistir. Se não conseguir, não importa, afinal, amanhã é outro dia.

Bom, agora, novamente me pergunto: tudo isso é uma tentativa de explicar o meu dia triste? Não, não é. São só divagações. Explicar, Freud explica. Eu, apenas sinto.