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A PAZ A QUALQUER CUSTO?


Considerei todos os problemas pelos quais ela vinha passando durante os últimos meses. Considerei sua idade avançada, e o fato de que fui muito bem acolhida por ela. Considerei a camaradagem que temos tido uns com os outros. Considerei a possibilidade de que poderia ter havido um mal entendido que a levasse a pensar como pensava. Durante muito tempo, levei várias coisas em consideração.

Até que o telefone tocou, e era ela, dirigindo-se a mim de forma extremamente grosseira.  Ouvi tudo calma e educadamente. Calei-me quando ela rebateu meus argumentos de maneira rude. Ouvi tudo o que ela tinha a dizer com muita calma e atenção, até o momento em que ela insinuou que eu estava mentindo, e também fez outros tipos de insinuações totalmente injustas e infundadas. Naquele instante, precisei ser firme. Não podia admitir que ela me destratasse daquele jeito.

Reafirmei meu ponto de vista, e segurei firme a ponta do fio da impaciência que teimava em querer arrebentar. Mas deixei bem clara a minha posição. Acho que ela entendeu, e pensará duas vezes antes de abordar-me daquela forma novamente.

Ao desligar o telefone, percebi o quanto eu vinha sendo condescendente e exageradamente paciente, apenas para manter a paz. Notei o quanto eu já tinha tolerado, e o quanto eu havia sufocado a mim mesma em nome da falsa 'paz de espírito.'

Não há como manter a paz a qualquer custo. A não ser que se esteja disposto a pagar um custo alto demais: nossa saúde, dignididade, moral, reputação, e mais que tudo, a nossa verdadeira paz de espírito.

Muitos vão levando a vida tentando, a qualquer custo, evitar conflitos que, se enfrentados, colocariam um ponto final em muitas situações desagradáveis. Vão, aos poucos, matando suas almas, ficando fisicamente doentes e abrindo mão de sua dignidade  e espaço, tudo 'em nome da paz.'  Mas que paz seria esta?

Estar em paz significa saber que não fez nada de errado que pudesse, em algum momento, prejudicar alguém. Estar em paz significa viver segundo aquilo em que se acredita, e exercer o direito natural de pensar como quiser e agir de acordo com o que se pensa. Ter paz significa estabelecer limites necessários entre nós, a nossa privacidade e dignidade e os outros. Ter paz jamais poderá significar calar-se, encolher-se, baixar a cabeça e matar a alma, a fim de evitar conflitos.

Às vezes, é necessário 'bater de frente' em nome da paz.
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 22/10/2012
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