Paz no coração.
Era quase cinco da manhã e meu sono estava leve, aguardando o momento do despertar para mais um dia de labuta, nos primeiros dias do meu primeiro emprego.
No meu sonho uma suave melodia que despontava nas paradas... "Este ano, quero paz no meu coração..." Mas não era sonho: na rua passava um grupo de jovens catarolando sob o acompanhamento de um violão "quem quiser ter um amigo...". Apesar do baixo volume de voz e violão, a melodia parecia invadir as casas, e o silencio do momento deixava o ambiente mais bucólico. Preguiçosamente não me mexi por um longo tempo para não interferir na doce melodia "... o tempo passa...". Qualquer movimento poderia atrapalhar a audição. Lentamente aquelas pessoas se afastavam e agora as frases misturavam-se aos ruídos do amanhecer. "Marcas do que se foi"...
Como um golpe de misericórdia uma corneta do quartel ao lado corta o ar e atinge meus tímpanos, exterminando de vez qualquer vestígio do final da linda música. Jamais vi aquelas pessoas que gentilmente me proporcionaram um dos mais belos momentos de prazer... Da mesma forma que, decerto, jamais souberam da existência de tão gratificado ouvinte. "... paz no meu coração..." impregnou-me a manhã e vários outros momentos desses longos anos que já se passaram.