Avenidas Brasís
Que o povo brasileiro e fanático por novelas nem é preciso falar. Desde o início da televisão por aqui, virou costume se assentar por trás da telinha e ver estórias fantasiosas, que de algum modo pudessem ter correlação com nossas próprias vidas.
Antes disso, já nos tempos do rádio, as novelas mexiam com o imaginário popular. Ouvir narrativas, sons e ruídos que de algum modo tentassem fazer com que as pessoas, mesmo não vendo tais cenas pudessem imaginá-las, dando às personagens rostos, estaturas, modos de se vestir, dentre outras características. Talvez aí, o povo aguçasse mais suas mentes para produzir.
A rede de televisão dos Marinho, juntamente com a extinta TV Tupi foram as pioneiras no ramo. Outras emissoras também se aventuraram, mas certamente que a rede do "plin plin" foi quem realmente se consolidou nesse ramo, criando mais de duzentas novelas, em horários diversos.
Com o crescimento da "Emissora dos Bispos", a Globo precisou sair da zona de conforto e se preocupar um pouco mais com suas tramas. Vários atores foram perdidos para a arquirrival, que oferecia altos salários, no objetivo de abocanhar esta fatia da televisão brasileira.
Alguns desses atores foram recontratados, atitude não muito comum na TV do Jardim Botânico, mas que puderam garantir sua hegemonia televisiva.
Ao abordar temas do cotidiano, com uma bela dose de humor, romantismo e a volta de algumas cenas picantes, "Avenida Brasil" se tornou um dos melhores negócios da rede, perdendo em audiência média apenas para sua antecessora "Fina Estampa", protagonizada por Lilia Cabral, que ficou famosa como "Pereirão".
Em "Avenida", foram criados diversos personagens que acabaram caindo no cotidiano das pessoas, como o "Tufão", sinônimo de homem traído.
Nas redes sociais, a rivalidade entre as personagem "Nina" (ou Rita), interpretada por Débora Falabella e "Carminha", brilhada pela carismática atriz Adriana Esteves era constantemente abordada, por meio de piadas, nas quais "Carminha" sempre acusava a "Rita" por tudo o que acontecia, como o apagão do jogo Brasil e Argentina, entre outros.
Não podemos deixar de mencionar, o tema "periguete", explorado pelo ilustre autor João Emanuel Carneiro, criando a personagem Suelen, que fazia a cabeça dos marmanjos, noveleiros de plantão.
A insistente vingança de "Nina" muitas vezes chegava a confundir o telespectador, pois a obsessão por "Carminha" era absurda. Mais uma vez, aplausos para Carneiro, que rompeu com a regra básica de "mocinho e bandido", fazendo com que as pessoas refletissem sobre quem realmente estava de cada lado.
O uso da temática atual, levemente adocicada de humor e claro, muita fantasia é a fórmula que a Rede Globo já conhece como meio de cativar a população. Isso agrada aos anunciantes, pois sabem que o produto será bem visto, criará tendências de moda e fará com que as pessoas consumam cada vez mais.
A cultura brasileira é muito rica, mas infelizmente peca em aceitar tudo o que lhe é oferecido, muitas vezes sequer conseguindo separar a fantasia da realidade.
A TV Record tem reconhecido esta fórmula e a explorado, porém ainda serão necessários muitos anos até que aprendam a fazer novelas como a "Rede dos Marinho". Pelo visto é só tempo, porque dinheiro não tem sido problema.
Em algum momento, quando a emissora de Silvio Santos quis usar a temática da realidade nua e crua, com seu "Amor e Revolução", mesmo tratando da história recente do nosso país, isso não caiu no gosto popular. Parece que as pessoas se interessam mais em fugir um pouco do que vivem no dia a dia e partirem mais por aquilo que talvez gostariam de viver.
A renovação, obviamente precisa acontecer, e isso a "TV do Jardim Botânico" sabe muito bem. Entretanto, manter-se na liderança absoluta rompe um pouco com o renovar, no que tange a mexer demais no "molho da carne". Preservar horários e rotinas em sua dramaturgia, há mais de quarenta anos amplia consideravelmente sua vantagem sobre as rivais, que a todo momento tentam mudar alguma coisa, até se acertar.
A tradição Globo ainda prevalece sobre tudo isso. Para as concorrentes, encostar talvez seja o máximo a se conseguir. Ultrapassar, somente esporadicamente. Vencer, missão quase impossível.
Que cada brasileiro continue a ver televisão, mas com um senso crítico mínimo, separando fantasia e realidade, para enfim tornar nossa nação feita de pessoas cheias de cultura e inteligência.