NO ESCURINHO NÃO GOSTO

Perfeição é uma palavra interessante porque explica o que não existe. Faltou luz, perfeito! Não é apenas faltar luz que fica perfeito. Faltou luz, perfeito, estamos no escuro. Já faltou luz na sua casa e sabe do que estou falando. Você se entedia olhando uma vela se consumir encantadora bailando nessa dança de fogo e pavio envolvendo-se lentamente numa chama num corpo metamorfoseado numa lagrima derretida. Quando não entra em pânico o ser humano sempre puxa conversa com algo além dessa situação constrangedora de não ver quem está próximo. Perceber ate pode, mas reconhecer fica difícil no escuro. Se ninguém ver o que faz pode te acusar de ter feito se ninguém o viu fazer? O momento adequado de não ser observado, ser quem és livre desse julgamento da opinião alheia. Faltou luz, perfeito demais! Quem não pensa maldades no escurinho? Apenas deve-se considerar um único lado mais dramático quando falta energia elétrica? Não tem Facebook, não há sites de poker, as existências dos pornôs já eram. Não existe nada, muito menos o recanto das letras. O breu domina seu olhar. E acreditamos que o que não podemos ver não existe. O pensamento reproduz seus medos e qualquer barulho te assusta. A existência da vida humana é reduzida ao que Descartes vivenciou no segundo dia de suas reflexões, somente existe a chama da vela e xau, vivemos na escuridão de nossa perspectiva. O que não vemos o coração não se engana. A quem goste da escuridão e discorda piamente de Descarte, realmente sendo sincero nem existe para quem não o leu. Apenas existem seus pensamentos aos adeptos da leitura, e nesse jogo discursivo existe porque resolveu pensar quando estava no escuro, e o pior, escrever cercado pela escuridão iluminado por uma simples vela acesa. Contudo, Descartes existe hoje na escuridão de quem nunca o leu, e mais obscuro nas leituras obrigatórias de universidades. Para a ciência, grande vilã na existência da eletricidade, o considera um pensador imortal nos torturando com pequenas questões simplesmente complexas. Você existe no escuro ou existe apenas quando pensa? E também, você se lembra da ultima vez que ficou no escuro total? Sem ninguém para conversar com você? Sem uma lâmpada acesa no conforto de seu sono? Descarte com uma vela acesa resolveu escrever. O que ele pensa existe apenas pelo atrevimento solitário de escrever suas meditações condicionando seu pensando a escrita, infelizmente ele não pode pensar o que existirá porque de forma absurda ele morreu. Foi vitima de gripe, em uma terra noturna. Fez mais do que eu faria se estivesse sem luz em casa dependente de velas acesas, penas molhadas na tinta e papel. E quando falta luz você não pensa em ligar para Descartes; você apenas racionaliza em ligar pra Celb*, ou por humildade alguém liga pra Celb se o celular ainda funciona. Já me avisaram a Celb não existe mais, perfeito foi privatizada. Não precisamos de energia elétrica para existir, vivemos bem sem os rádios, sem os postes das ruas, sem os tanquinhos, sem a TV, sem... sem a tv não, liga pra Celb! Apenas os velhos lembram-se da Celb, os mais novinhos nem se lembram de ontem. Velhos que na época da Celb eram crianças que corriam atrás dos carros pisca-pisca com suas lanternas quilométricas iluminando todo o quarteirão a procura do poste que desconectou toda a conexão da rede, então ao ouvir o barulho de uma escada giratória subindo em apitos, o milagre da luz. Um estádio lotado não sufocava o grito que minha rua deu quando a luz voltou. O mundo enfim encontrou sua normalidade. A TV ligou. Perfeito.

*Celb, Companhia Energética da Borborema