[A Banalidade do Esquecimento]
Esquecer pode ser um alívio... e no universo da internet, das redes sociais, esquecer torna-se mais e mais fácil, pessoas surgem e desaparecem numa velocidade crescente. E a razão é simples... cada pessoa, [cada encontro] nesse mundo virtual representa uma "informação" nova em nossa paisagem de relações. Por quanto tempo orbitamos em torno de alguém? Impossível dizer... mas, certamente, menos do que nos tempos pré-internet! Encontrar tornou-se mais fácil, muito mais fácil... e perder quem a gente encontrou [ou ser perdido...] também! Nossas cabeças rolam nas águas rápidas... por um tempo, rolamos juntos, mas logo, uma toma a dianteira, some rio abaixo...
Traduzo mal [e tenho english as a second language!] uma frase lida por aí: "Estamos numa inundação de informação, estamos banhados em oceanos de informação, a tal ponto que, diferente de outros tempos, dificilmente a informação pode ser considerada um bem, ou um serviço escasso. O que é escasso é o nosso tempo, especificamente, a limitada "disponibilidade de tempo" que nós temos para prestar atenção a uma nova informação." Então se é assim, olha só, "Nova Informação", cuidado... os nossos rostos estão prestes a desparecer, mas não por culpa nossa! É a voragem da vida de hoje...
Se o esquecimento nos faz bem, nos salva... cada um responde por si; não há regras! Vamos todos esquecendo, sem culpas... Falei o óbvio? Falei... e falei sim, e falei para ser esquecido! Não quero mais carregar comigo o desejo ser lembrado, embora isso me faça feliz, às vezes.
Pelo mesmo ralo vai indo ao ato de "ir ver"... por que diabos tenho de ser eu a ir ver alguém? Por quê?! Em inúmeras ocasiões, já passei horas e horas ao volante, em estradas péssimas, em horas erradas, corri riscos, para ir "ver" pessoas... que, prontamente me esquecem, nem um telefonema, nem um e-mail, nada! Devo ser mesmo um tipo escrofuloso, horroroso... devo ser pior que isto; e mereço o esquecimento!
Em toda minha longa vida, só me recordo prontamente de uma única pessoa que veio me ver, veio estar comigo, em várias ocasiões... e veio para estar só comigo, um luxo raro! Sem reciprocidade, ninguém mais há de sentar em seu conforto e me colocar na estrada, pedindo-me — "venha me ver". Se morreu, eu não vou; que seja logo enterrado... sem mim, é claro! Se está, doente, também não vou, não sou médico! Chega, chega... só vou ver quem vem [ou já veio] me ver!
Agora, faço bom uso da vertiginosidade da era "pós-trevas modernas", a era da internet, e pratico com todo o gosto o "esquecimento de ir ver"... ih... esqueci! Esqueci! Hoje em dia, esquecer é uma banalidade, ninguém se importa mais!
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[Desterro, 20 de outubro de 2012]