PIRAMUTABA
Modéstia à parte tenho faro de caminhoneiro e sei onde encontrar boa comida e bom atendimento. Você passa pelas estradas e observa todo tipo de restaurantes à margem. Alguns quase vazios, mas outros com vários caminhões e carretas estacionados. Aí está a dica, pode parar e descer que o rango é bom, você não vai se arrepender. Essa gente da boléia entende do riscado.
Quando morava em Belém/PA, provei um peixe ensopado, a "Piramutaba", servido em grandes postas com cebola, pimentão e batatas, coisa de louco. Passei a comprar o tal peixe no "Ver o Peso" e no "Mercado São Brás", peça inteira e minha mulher, a Dona Mari, o fazia à moda de Januária (terra do meu pai), com abóbora moranga, para delícia de todos nós, marido e filhos. Parecia um bagre grande, sem escamas, liso, de carne branca e suculenta, sem espinhos, uma beleza. E o incrível era seu preço, baratíssimo. Indaguei dos pescadores e eles informaram que o povo da terra preferia os dourados, os filhotes, os vermelhos, garoupas e outras espécies, menos aquele que era bastante comum na região e dava como "praga".
Passado algum tempo a "Piramutaba" valorizou-se:- os japoneses descobriram-na e fizeram um acordo com o governo paraense, que passou a exportá-la em toneladas para o Japão, que a industrializava e vendia seu filé, enlatado, a preço de ouro. Aí ficou difícil e muito caro conseguir o valorizado peixe na sua própria origem.
Pois não é que hoje, dirigi-me a um simpático restaurante aqui do Ipiranga (Belô), o da "Dona Preta", sito à Rua Joaquim da Silveira, 745, sendo atendido pelo Marcos, membro da família (aliás, todos os familiares são engajados no trabalho de atendimento do aprazível restaurante), o qual me serviu algumas postas saindo naquele momento da saborosa "Piramutaba", do jeito que o diabo gosta, moquecada e com bastante molho?
Pedi dois dedos da pinga "Seleta" (produzida em Salianas/MG, terra das melhores aguardentes) e me fartei do apetitoso peixe, sentindo-me como um daqueles coronéis do cacau frequentadores do "Bar do Nacib", o "Vesúvio", em Ilhéus/BA, bebericando e degustando os quitutes feitos pela cozinheira "Gabriela", da novela baseada no magistral livro do grande Jorge Amado.
Após a refeição, corri para casa a fim de curtir um descanso e gravar no papel as minhas impressões gastronômicas sobre a "Piramutaba", o que concluo agora, recomendando aos interessados o endereço da "Dona Preta" (Dona Raimunda) aqui nas Minas Gerais. Com certeza quem visitá-la não vai se decepcionar, mormente se for apreciador de um bom peixe! ...
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B.Hte., 20/10/12
Dedico esta crônica à minha irmã Mariza Rêgo, que me indicou o caminho do "Dona Preta"! ...