CARTILHA DE AMOR À VIDA
Fernando Tormin é o meu 3º filho. Garoto educado, trabalhador, ótimo em tudo. Um presente de Deus para a vida! Um anjo da guarda polivalente. Hoje, um homem! Um lindo rapaz! Dono de todas as virtudes. Um bom filho, um bom colega. Para ele nunca há problemas, sempre soluções. Um espírito evoluído que tivemos o privilégio de chamar de filho.
Pedi-lhe para fazer a orelha da 4ª edição do Pássaro Sem Asas. Sempre que o lembrava da tarefa, ele me mostrava a sua orelha e perguntava:
— Mamãe, esta serve?
— Serve para puxá-la, caso você não me apresente a tarefa na atempação necessária.
Finalmente, a orelha ficou pronta. Linda! Chorei muito ao lê-la. Emocionou-me relembrar do tempo em que fiquei repentinamente paraplégica, causando ruptura tão grande na vida da família. O sentimento, com certeza, ficou registrado na cabecinha de cada filho, e agora, Fernando, (que na época tinha 7 anos) o transmitia com tanta perfeição, com tanta ternura, na orelha do meu livro.
Ei-la:
CARTILHA DE AMOR À VIDA
Lembro-me muito bem. Era criança. Tinha mais três irmãos para dividir as brincadeiras de minha pouca idade. Mamãe e papai eram o alicerce de nossa segurança, o amparo de amor que transformava tudo em felicidade.
Lembro-me bem da imagem de mamãe: bonita, esbelta, falante, sempre de sapatos de salto alto e andar elegante, parecia uma personagem de televisão. No meu entendimento de criança, ela era uma fada, pois sempre estava a nos proteger, defendendo-nos dos perigos e resolvendo as animosidades. Estava presente: na escola, no clube, nos passeios, nas tarefas escolares, nas brincadeiras no quintal... Era gostoso dormir ao som de sua cantiga de ninar. Tempo bom, aquele! Tempo que não volta mais! Levou a inocência de criança.
Naquela época, levou também parte de nós. Marcou o nosso mundo, dificultou os nossos folguedos, fazendo-nos adultos precoces.
Numa manhã de março, inexplicavelmente, mamãe ficou paraplégica. Muitas dificuldades passaram a fazer parte de nossas vidas. Mamãe não se deixou ficar. Foi à luta! Ajudada pelo papai e por nós, que lhe dávamos apoio, carinho e incentivo, ela enfrentou todos os desafios.
A família ficou mais coesa. Éramos todos responsáveis pela organização da casa, além de pequenos enfermeiros. Papai dirigia tudo e a vitória de mamãe era o objetivo de todos nós. Com muita garra, ela conquistava o seu profissionalismo e adquiria maneiras para viver melhor, já que era irreversível a sua paralisia.
Hoje, posso dizer que todos esses desafios, divididos em família, transformaram-se em experiências construtivas e tiveram relevância primordial para o nosso desenvolvimento moral, social, afetivo e intelectual. Ficou provado que viver não é fácil, e precisamos de muita coragem para vencer.
O momento é oportuno e a autora deste livro sabe tirar proveito dele, transformando os transtornos em sucesso. Seu desiderato foi alcançado e o seu ensinamento está aí para todos feito uma cartilha de amor à vida.
Pássaro sem asas é um livro aberto, recheado de otimismo, determinação, garra, qualidades que muito combinam com o modo legalista de sua autora. Faço parte dele. Hoje me emociono ao rever, através de suas páginas, os difíceis caminhos enfrentados por uma mulher corajosa que, sem motivo plausível, perdeu o direito de caminhar. E mesmo assim construiu o alicerce intelectual da família, e esbanja positivismo a todos que a conhecem.
Emociono-me ainda por tê-la como minha colega de trabalho no Judiciário Federal, e ainda, por ser ela a minha MÃE, a pessoa a quem agradeço o exemplo, o endereçamento na vida e o liame de amor que me fez vir ao mundo.
Parabéns, minha mãe!
Amo muito você!
Fernando Tormin