Fantasmas

Fantasma é a pessoa abatida, que é magra porque quer, não porque a genética lhe obrigou; vive consumida por si mesma. Pode ser gorda também, e a desculpa dos gordinhos, que na maioria das vezes são sabichões da resistência é dizer: é a genética! Pena, que no mundo de hoje, que é moralista e cientificista, há dois erros. Moralista, porque chamar alguém de gordinho é preconceito. E, segundo, cientificista porque todo mundo hoje utiliza a desculpa do conhecimento para não reconhecer sua incompetência.

Ninguém se diz, 'com falta de vontade'. A culpa é sempre das células do estômago; deveria ser da boca! A culpa é dos alimentos ricos em gordura; deveria ser do sedentarismo. Enfim, essa polêmica tá mais para fisiologia do que para aspectos mentais. Até porque, contra a mente resistível de quem quer viver 'na sua', não adianta brigar. Na verdade, o bom mesmo é a gente só brigar com quem a gente ama. Quem não serve pra gente, a gente tem que ser indiferente. É a melhor saída!

Neste quesito entra outra questão: não quer enfrentar a vida nela viverá como fantasma. Tem gente que nasceu pra ser sombra. Não conseguirá ser protagonista. Vive escondido, atrás. Quer, porque quer aparecer, mas não consegue. Vive pobremente debaixo. A classe baixa, que, às vezes é a falta de classe, menospreza o semblante não porque se ganha pouco, mas porque não se consegue avançar diante da civilização. Não se consegue 'estreitar as relações'. Não se consegue, 'adentrar' na cerimônia social. Aí, inventou-se a pobreza geral: 'comunidade'. Faço parte da minha comunidade. Ou seja: 'aqui, rico não entra'. É a revolta da pobreza! Como se isso fosse interessante.

Todas às vezes que nos juntamos, costuma dá fuxico. Costuma dá fofoca. Onde predomina essa noção, pobre, de 'juntar', que aliás está impregnando o Brasil, pior ficamos. Onde a cerimônia desaparece, desaparece tudo! Desaparece a construção, desaparece a herança interessante; desaparecem os pais! A invenção da sociedade e sua permanência nela é anterior a nós. Nossos ancestrais, sejam eles animais ou humanos, nos inventaram. Continuar a espécie é dá sentido ao semblante: é torná-lo interessante! É saber cumprimentar as pessoas; é viver com brio. É se vestir bem. É saber dá 'vestimenta à criança'. É cuidar dos rituais, e saber fazê-los virarem nossa carne. Não fazê-los de maneira externa e intelectual, que, aliás, não serve; não presta. Mas, fazê-los verdadeiramente, isto é, através de uma sintonia com o passado.

Quem desmerece o passado, esquecendo a tradição, não tem um futuro promissor. Quem só vive do passado, cultuando mortos como se fossem vivos, também não terá nada à frente. Nosso futuro, imaginário, é construído em torno de uma fantasia. Fantasia de que poderemos dá certo. Mas, pra isso: é preciso saber considerar as construções da vida. Ou seja: fazer acontecer! Os punhos não devem se virar contra os outros. Os punhos tem que ser levantados por nós mesmos: enfrentar a vida é nossa luta. Nessa luta, o luto existe, pois só há vida, onde em cada um, residiu alguma morte: seja a morte de um pai que não está mais aqui - pois já somos adultos - seja a morte de alguma perda. Quem não perde, não ganha nada!

arrab xela
Enviado por arrab xela em 19/10/2012
Reeditado em 09/12/2012
Código do texto: T3941086
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