Empatia
'É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada.'
(William Shakespeare)



Chego à garagem e o cliente à minha frente briga com a mocinha do guichê sobre o alto preço cobrado, acusando-a, e aos donos do espaço, de ladrões.
Fiquei me perguntando: pra quê?

Isto é, na entrada do estacionamento, há uma placa enorme com as tarifas. Há, também, uma tolerância para sair sem pagar nada. Ao entrar e ficar, ele tacitamente aceitou aqueles valores. Não é que ele não tenha razão: são altos, sim. São abusivos! Mas, é a lei da oferta e da procura: não há vagas para todos os carros que circulam por aí e cujo número não para de crescer. Não está satisfeito, procure a administração, o PROCON ou outros órgãos de defesa do consumidor, faça abaixo assinados, exija melhorias no transporte público, proponha boicotes aos estabelecimentos servidos por esses estacionamentos...

Enfim, o que não faltam são mecanismos para que o cidadão possa tornar a sociedade mais justa, desde que arregace as mangas e parta para a ação.

Agora, como diria meu sobrinho, “Véi, na boa...”, agredir, ainda que com palavras, a atendente do caixa do estacionamento, que está ali trabalhando honestamente, sentada o dia inteiro dentro de um caixote e aturando os ruídos e aromas de uma garagem coberta é, no mínimo, uma maldade. E, o pior: é inócuo. Ela não tem nenhum poder para ajudá-lo a resolver o problema!

E o mesmo vale para aquela aporrinhação do tele-marketing. É um saco? Eu também acho! Mas, sejamos racionais: a culpa é dos coitados que “estarão tentando” nos convencer a comprar os produtos ofertados? Não! Adianta dizer-lhes uns desaforos? Não!!
Quando o grosseirão foi embora e eu me aproximei do balcão, percebi que aquela estupidez desnecessária estragou o dia da garota. Ela parecia constrangida e irritada. Munida do meu melhor sorriso, perguntei:

- Escuta! Se eu brigar com você, ganho desconto?
Não é que funcionou? Quando me afastei de sua janelinha, a moça ainda sorria feliz de minha cúmplice brincadeirinha.

Mais feliz seguia eu, sentindo-me um pouco mais humana, por ainda ser capaz de empatia, coisa que nossa sociedade egoísta e estressante vem cotidianamente roubando de nós.




Crônica publicada no Jornal Alô Brasília em 06/07/2012, e reeditado do texto Alegria Contagia, publicado neste Recanto em 11/07/2008.