Anseios de Uma Cabeça Quase Velha

Principiando

Coloquei o telefone no gancho. Tentei ligar para ajuda-lo durante todo o final de semana, mas não havia resposta. Comecei a escrever em uma folha o que eu fazia ou fiz por ele, o quanto o procurei; mas também escrevi o quanto me equivoquei.

Que historinha de amor nojenta essa, o leitor deve estar pensando. Porém não é esse meu objetivo, é só um meio para eu falar o que realmente quero. Sentia-me criança perto dele. Na verdade perto da maioria dos conhecidos. O que acontece é que se falo alguma coisa, tendo a duvidar de mim mesma, não tenho experiência, sei pouco. Quisera eu ter confiança de dizer quem eu sou, do que eu gosto, ser extrovertida, de me acostumar a ser o que os outros querem. Sonho eu em envaidecer e como consequência não ter que navegar em um mar de lágrimas. Mas existe uma luta, em mim, em você e em qualquer um, em pelo menos uma parte da vida. Coexistem duas mentes; aquela que te diz vá em frente e a outra que diz que você não é nada. Mas o que isso tem a ver com a minha relação com ele?

Bem, só queria entende-lo.

Será que é pedir muito? É isso mesmo? Não peço nada de mais, só quero entender. Queria saber por que a ideia de me enrolar no cobertor em uma poltrona, com café, chocolate, e o mais importante, livros à vontade, me agrada mais do que imaginar alguma companhia. É possível encher-se tanto de solidão que ela mesma acaba sozinha dentro de mim, por eu própria me acompanhar?

Devaneios, devaneios, devaneios. Como quero entendê-lo! Só queria me relacionar bem com ele, mas é muito difícil conversar se ele está dentro de minha cabeça, literalmente.

O problema é minha cabeça de velha, ou pelo menos, cabeça de mãe. Eu queria muito ter o saber e o viver dos oitenta com a emoção e expectativa dos quinze. Seria como juntar o infinito e o que nunca aconteceu, seria o presente perfeito. Será que assim ele e eu nos entenderíamos enfim? Quero alguém para me divertir, e também para ser sério. Quero ser madura e com pessoas maduras viver. É, o mundo dos adultos está chegando.

Espera! Decifrei-o então? Que graça! Descobri assim a alegria de achar algo não achável e de entender os códigos das sinapses.

E meu amigo no peito? Entenderei-lo algum dia?

- Pequena isso fica para a próxima página. – disse o morador de minha cabeça.