Tempos de nostalgia
 
    Tenho observado o quanto as pessoas andam nostálgicas. O mais interessante é perceber que a onda de nostalgia que invadiu a cabeça e o comportamento das pessoas não se restringe àquelas que já atravessaram a juventude há muito tempo e se encontram na idade madura. Não. Tenho visto jovens já sentindo “saudades dos velhos tempos”.
    Na minha idade é até natural que momentos passados sejam foco de conversas entre amigos, que a gente ouça músicas que embalaram nossa juventude, que a gente lamente que a vida tenha passado tão rápido que, de vez em quando, vem aquela sensação de que a gente não aproveitou o suficiente. Porém, ao observar os jovens que ainda nem atingiram a faixa dos trinta anos suspirarem e dizerem “Ah, eu era feliz e não sabia!”, a gente se assusta. Alguma coisa estranha está acontecendo. Seria falta de planos e objetivos para o futuro? Ou seria o reconhecimento de que atualmente, mesmo com toda tecnologia ao dispor, a criatividade cultural anda em baixa, principalmente quando o assunto é música?
    Já faz algum tempo, talvez uns cinco anos, que os bailes Retrô começaram a fazer sucesso. Aqui na minha cidade, por exemplo, uma vez por mês tem A noite do flash back. Nesses bailes são tocadas as músicas, principalmente, das décadas de 1960 e 1970. Nós, a maioria cinquentões, nos divertimos dançando twist, rock, dancing, enfim, vamos do Biquíni de bolinha amarelinha aos Embalos de sábado à noite. Eu particularmente adoro quando o DJ toca Never Can Say Goodbye com a Gloria Gaynor, Don’t Let Me Be Misunderstood com o Santa Esmeralda e aquela do filme Priscilla, a Rainha do Deserto que agora não me lembro o nome, acho que é I Will Survive.
    A verdade é que estes bailes se espalharam por todo Brasil como se fossem uma febre. Porém, agora eles começam a ser direcionados para as gerações de 1980 e 1990, ou seja, a geração dos meus filhos e sobrinhos. Hoje o que temos é A noite do Ursinho Blaublau, A Festa Ploc e por aí vai. Como há muitos jovens na família posso observar as tendências: os mais novinhos curtem o insuportável Funk (desculpem-me, mas não consigo gostar) e essa moda de Sertanejo Universitário. Já os mais velhos, na casa dos vinte ou trinta, preferem Rock, Pop Rock e MPB. E como eles gostam dos tais bailes que só tocam as “Antiguinhas”!
    Não são somente as casas noturnas que apostam na nostalgia para atrair frequentadores, as emissoras de rádio também se utilizam da mesma estratégia para aumentar a audiência. São muitas as que incluem em sua programação o tal do “Good Times”. E, nesse contexto, a indústria fonográfica tem lançado coleções e mais coleções de sucessos antigos de vários gêneros: romântico, pagode, trilhas de filmes, pop, etc.
    A televisão também não fica atrás quando o assunto é mexer com a saudade das pessoas e, para isso, criou um Canal exclusivo para exibir somente reprises de programas, novelas e seriados. Conheço pessoas que não assistem mais a programação de outras emissoras, ficam sintonizadas apenas no Viva. Não sei até que ponto isso é saudável, porque não vivenciam o hoje, deixando escapar oportunidades de assistir a algo novo que traga informações importantes, que ajudem a melhorar a qualidade de vida no presente e no futuro.
    Acho que lembrar os momentos que foram especiais em nossa vida é extremamente importante. Lembranças podem ser ótimas companheiras, e até conselheiras, pois podem nos ajudar a não cometer os mesmos erros do passado. Entretanto, quando a gente esquece de olhar ao nosso redor e ver as coisas que estão acontecendo hoje, agora, corre o risco de envelhecer mais rápido.  
   A estagnação nunca é saudável em nenhum aspecto, seja no aspecto físico, emocional ou psicológico. Enquanto a nostalgia for apenas um momento de saudade de um tempo, de um fato ou de alguém, ela não fará mal algum. Ao contrário, significa que a nossa memória está ativa e isso ajuda na produção de hormônios importantes para o nosso organismo. Porém, se nos entregarmos a ela de maneira obsessiva, a tristeza se instala e pode se transformar em depressão.
    Vamos ser nostálgicos, mas não vamos deixar que as alegrias do passado nos impeçam de encontrarmos alegrias no presente. Ainda há tanta coisa pra viver.
    Vamos à vida!
 
 
 
 

 
 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 18/10/2012
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