SOLITÁRIO.

Muitos, embora apaixonados por política como arte ou ciência, como é sua definição, vivem em castelos solitários e emudecidos quando esse é o tema. Por quê? Pela singular razão de não concordarem com política como profissão. Execram e repelem os castelos conquistados através da rapina “política”; pejore-se o vocábulo cujo destino era a sacralização da sociedade em tudo que é bom.

Profissão, de forma alguma se irmana à atividade política, nasce e se desenvolve por vocação e se dirige ao crescimento individual em todos os sentidos, inclusive material. O bom profissional é o mais caro, o mais procurado, seu espaço de atendimento é menor, a pauta é grande, daí ser mais valorizado. A excelência de seus serviços ganhou prestígio, seu sucesso se mostra em números; enriqueceu justificadamente, passou e passa por todos os crivos e malhas.

Já o exercício da política lastreada na correção tem outra dirigência, suas setas - é plural, setas - apontam para o coletivo. Cuida-se de missão, e se insere em quem abraça a atividade política, ou assim nela devia se inserir, promover o coletivo, por doação pessoal irrestrita, sem moedas de troca, principalmente as escusas.

Sem abnegação e ato de entrega ao interesse coletivo não há política, mas interesse individual.

Não é o que se vê, e mesmo os que ainda têm motivos para exercer o direito do voto – votar é direito, não dever, quem exerce o voto dá mandato, no caso, público, presidido pelo princípio da confiança, e dar procuração é ato livre, de escolha, espontâneo, erradamente no Brasil é obrigação – se mostram decepcionados.

Assim, desse castelo solitário, mudo em opinião, melhor dizendo, amordaçado para não se expor, e para não incidir como a maioria, em frustração da comunicação, assiste-se outros castelos surgirem, frutos da “esperteza” e varredura da improbidade para restar embaixo do tapete, pura e simplesmente, sem nada para aceitação mínima.

Muitos e muitos anos depois de seus príncipes já habitarem castelos rapinados, em sucessão ininterrupta e dinástica, por sangue, surgindo somente e ironicamente, pela "nobreza" real, que no Brasil não tem previsão legal, continuam em ciclos de pai para filho, sem cisões, confiram-se os nomes... mas querem subir mais, para quem sabe, chegarem a rei, e conseguem...

Habitam castelos diversos do solitário e frustrado idealista. Esses castelos dos ideólogos da harmonia e aumento da dignidade coletiva são como cartas de baralho que caem em cascata, desesperançados, caem, quando deviam cair os que são impulsionados pela cobiça. E não é problema de tempo, exclusivamente temporal a queda, ela não ocorre, a subserviência da necessidade de todas as formas é servida pelos encastelados no poder que manipulam todas as necessidades, dos que têm e dos que nada têm.

A nota de agravo à sociedade mundial, nessa partilha do interesse de corporações e rapineiros, alimentada pela fraude e desmandos de toda sorte, fez cair os grandes castelos privados, enredados no público, na chamada “crise” econômica.

No Brasil os castelos passam por todas as malhas e entre renúncias e compadrios voltam sempre. Até quem já foi rei volta a ser príncipe, o que importa é habitar castelos, sempre.

Que não tenhamos novas “gabelle”, taxa sobre o sal odiada pelos camponeses da França, para ajudar a construir Versailles. As consequências todos conhecem....

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 18/10/2012
Reeditado em 18/10/2012
Código do texto: T3939452
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