Apagão
Oswaldo Antonio estava rindo à toa. Os colegas do escritório começaram a desconfiar de que alguma coisa muito boa lhe tinha acontecido.
- Será que ele ganhou na loteria? Disse um.
- Será que ele conseguiu aquele aumento há tanto esperado? Arriscou o outro.
- Será que a sogra dele morreu? Pilheriou o mais brincalhão.
Oswaldo Antonio, no entanto, nem notava os olhares. Desde aquela manhã ele estava em estado de graça. Finalmente, Hermelinda Augusta, aquela louraça boazuda, tinha concordado em sair com ele. Tomou coragem, entrou na sala do chefe e, antes que as pernas começassem a tremer, descarregou em uma só respiração.
- Dr. Marcos, preciso sair mais cedo hoje. Minha sogra foi internada e está grave.
- Sorte sua, Oswaldo Antonio, a minha está com a saúde perfeita! Se a sua morrer você só tem que comemorar – disse o Dr.Marcos que era duro na queda e nunca achava que deveria facilitar a vida de seus empregados.
- Vendo que o chefe não amolecia, Oswaldo Antonio continuou: é que ela estava com a minha filha de apenas três aninhos e eu não sei se a criança está ferida.
Aí o chefe amoleceu. Ele também tinha uma filha de três anos que era o seu xodó e, se pondo no lugar de Oswaldo Antonio, imaginou o seu sofrimento.
- Pode ir, mas vá logo antes que eu me arrependa – falou com voz grossa que usava para dar a impres-são de ser durão.
Oswaldo Antonio correu ao banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes e ligou para a louraça.
- Tô liberado. Passo em meia hora pra te pegar.
Hermelinda Augusta, tomou uma chuveirada, botou o sua calcinha mais ousada, se perfumou e, em menos de meia hora, estava pronta. Não cabia em si de tanta expectativa.
Oswaldo Antonio pegou-a e foram para um motel, tomaram uns drinques e se amaram como dois animais famintos. Quando deu 8 horas da noite - hora que ele costumava chegar em casa - ele deu um pulo da cama e disse que tinha que partir. Não queria problemas em casa.
Hermelinda Augusta ainda tentou segurá-lo mais um pouco, mas ele se desvencilhou dela, embora a contragosto. Pagou a conta e, quando ia chegando ao portão eletrônico de saída do motel, a luz acabou. Oswaldo Antonio entrou em pânico.
- Dê um jeito! - gritou para o porteiro.
- O que eu posso fazer, meu amigo? O apagão foi geral. A cidade toda está às escuras e não é só o Rio de Janeiro não. Estou ouvindo aqui no meu radinho de pilha que foram 18 estados.
- Oswaldo Antonio, que era muito supersticioso, logo pensou: é castigo porque eu traí a minha mulher e aquela mulata tem um santo forte pra caramba!
Sua cabeça começou a funcionar para poder dar uma explicação ao chegar em casa.
Graças a Deus o celular não funcionava e a esposa não poderia ligar. Ele sabia que, não sendo um bom mentiroso, ia se trair na primeira frase. Foi sentindo um arrepio, uma dor de cabeça, as mãos começaram a suar e ele estava a ponto de ter um enfarte.
Nessa hora, a cabeça fria de Hermelinda Augusta, achou uma solução.
- Calma, Oswaldo Antonio, todo mundo está sem luz, logo, sua mulher vai compreender.
- Mas e se a luz não voltar até de manhã?
- Se não voltar você diz que ficou no escritório porque não ia descer trinta e quatro andares no escuro, com o perigo de cair ou até morrer e deixá-la viúva.
Oswaldo Antonio foi se acalmando e ficaram dentro do carro, já que não podiam voltar para o quarto, uma vez que uma vez que o dinheiro que tinha só deu para pagar aquele período de três horas.
Começaram então a planejar o próximo encontro. Seria no térreo e não iriam de carro para não passarem esse aperto.
Quatro horas depois ele voltou para casa e, para sua surpresa, a mulher, dona de casa bem comportada, como ele sempre pensara, não estava.
- Será que teria ficado presa em algum elevador, depois de voltar da igreja – onde costumava ir às sextas-feiras?
Duas horas depois ela chegou.
- Oswaldo Antonio você não vai acreditar no que vou lhe contar. Imagina você que eu fui ali na padaria comprar um pãozinho para o seu lanche quando apagou a luz. Uma mulher que estava grávida, começou a passar mal perto de mim e eu tive que levá-la para o hospital mais próximo. Foi um sufoco, mas conseguimos e o meninão que nasceu, embora tendo chegado nesse mundo no escuro, veio iluminar a vida dessa mulher.
Oswaldo Antonio olhou pra mulher, viu a roupa que ela estava vestindo – nada propícia para ir à padaria – e disse, aliviado: É querida, essas coisas aconte-cem. Ainda bem que tudo deu certo e a criança está bem, não é mesmo? Disse, sentindo uma grande paz.
A mulher respirou aliviada e mentalmente agradeceu aos santos por ter tido presença de espírito para inventar aquela história. Da próxima vez iria ao motel de bicicleta e não de carro para não ter que enfrentar um portão eletrônico em dia de apagão. Ela tinha ouvido dizer que esses apagões iam ser frequentes. Ainda bem que ela já tinha conquistado o seu bombeiro que, em matéria de apagão era mestre. Sabia apagar o seu fogo como ninguém.
Oswaldo Antonio estava rindo à toa. Os colegas do escritório começaram a desconfiar de que alguma coisa muito boa lhe tinha acontecido.
- Será que ele ganhou na loteria? Disse um.
- Será que ele conseguiu aquele aumento há tanto esperado? Arriscou o outro.
- Será que a sogra dele morreu? Pilheriou o mais brincalhão.
Oswaldo Antonio, no entanto, nem notava os olhares. Desde aquela manhã ele estava em estado de graça. Finalmente, Hermelinda Augusta, aquela louraça boazuda, tinha concordado em sair com ele. Tomou coragem, entrou na sala do chefe e, antes que as pernas começassem a tremer, descarregou em uma só respiração.
- Dr. Marcos, preciso sair mais cedo hoje. Minha sogra foi internada e está grave.
- Sorte sua, Oswaldo Antonio, a minha está com a saúde perfeita! Se a sua morrer você só tem que comemorar – disse o Dr.Marcos que era duro na queda e nunca achava que deveria facilitar a vida de seus empregados.
- Vendo que o chefe não amolecia, Oswaldo Antonio continuou: é que ela estava com a minha filha de apenas três aninhos e eu não sei se a criança está ferida.
Aí o chefe amoleceu. Ele também tinha uma filha de três anos que era o seu xodó e, se pondo no lugar de Oswaldo Antonio, imaginou o seu sofrimento.
- Pode ir, mas vá logo antes que eu me arrependa – falou com voz grossa que usava para dar a impres-são de ser durão.
Oswaldo Antonio correu ao banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes e ligou para a louraça.
- Tô liberado. Passo em meia hora pra te pegar.
Hermelinda Augusta, tomou uma chuveirada, botou o sua calcinha mais ousada, se perfumou e, em menos de meia hora, estava pronta. Não cabia em si de tanta expectativa.
Oswaldo Antonio pegou-a e foram para um motel, tomaram uns drinques e se amaram como dois animais famintos. Quando deu 8 horas da noite - hora que ele costumava chegar em casa - ele deu um pulo da cama e disse que tinha que partir. Não queria problemas em casa.
Hermelinda Augusta ainda tentou segurá-lo mais um pouco, mas ele se desvencilhou dela, embora a contragosto. Pagou a conta e, quando ia chegando ao portão eletrônico de saída do motel, a luz acabou. Oswaldo Antonio entrou em pânico.
- Dê um jeito! - gritou para o porteiro.
- O que eu posso fazer, meu amigo? O apagão foi geral. A cidade toda está às escuras e não é só o Rio de Janeiro não. Estou ouvindo aqui no meu radinho de pilha que foram 18 estados.
- Oswaldo Antonio, que era muito supersticioso, logo pensou: é castigo porque eu traí a minha mulher e aquela mulata tem um santo forte pra caramba!
Sua cabeça começou a funcionar para poder dar uma explicação ao chegar em casa.
Graças a Deus o celular não funcionava e a esposa não poderia ligar. Ele sabia que, não sendo um bom mentiroso, ia se trair na primeira frase. Foi sentindo um arrepio, uma dor de cabeça, as mãos começaram a suar e ele estava a ponto de ter um enfarte.
Nessa hora, a cabeça fria de Hermelinda Augusta, achou uma solução.
- Calma, Oswaldo Antonio, todo mundo está sem luz, logo, sua mulher vai compreender.
- Mas e se a luz não voltar até de manhã?
- Se não voltar você diz que ficou no escritório porque não ia descer trinta e quatro andares no escuro, com o perigo de cair ou até morrer e deixá-la viúva.
Oswaldo Antonio foi se acalmando e ficaram dentro do carro, já que não podiam voltar para o quarto, uma vez que uma vez que o dinheiro que tinha só deu para pagar aquele período de três horas.
Começaram então a planejar o próximo encontro. Seria no térreo e não iriam de carro para não passarem esse aperto.
Quatro horas depois ele voltou para casa e, para sua surpresa, a mulher, dona de casa bem comportada, como ele sempre pensara, não estava.
- Será que teria ficado presa em algum elevador, depois de voltar da igreja – onde costumava ir às sextas-feiras?
Duas horas depois ela chegou.
- Oswaldo Antonio você não vai acreditar no que vou lhe contar. Imagina você que eu fui ali na padaria comprar um pãozinho para o seu lanche quando apagou a luz. Uma mulher que estava grávida, começou a passar mal perto de mim e eu tive que levá-la para o hospital mais próximo. Foi um sufoco, mas conseguimos e o meninão que nasceu, embora tendo chegado nesse mundo no escuro, veio iluminar a vida dessa mulher.
Oswaldo Antonio olhou pra mulher, viu a roupa que ela estava vestindo – nada propícia para ir à padaria – e disse, aliviado: É querida, essas coisas aconte-cem. Ainda bem que tudo deu certo e a criança está bem, não é mesmo? Disse, sentindo uma grande paz.
A mulher respirou aliviada e mentalmente agradeceu aos santos por ter tido presença de espírito para inventar aquela história. Da próxima vez iria ao motel de bicicleta e não de carro para não ter que enfrentar um portão eletrônico em dia de apagão. Ela tinha ouvido dizer que esses apagões iam ser frequentes. Ainda bem que ela já tinha conquistado o seu bombeiro que, em matéria de apagão era mestre. Sabia apagar o seu fogo como ninguém.