Direito ou Obrigação?
É preciso que o brasileiro saiba que “o mesmo empenho em participar das eleições visto na Venezuela se repetiu mundo afora”. As pessoas enfrentaram filas e transtornos para saírem de suas cidades em busca dos consulados onde pudessem exercer o seu direito de voto.
No Brasil “mais de mil pessoas estavam cadastradas para votar”. Muitas vieram de Niterói, Macaé e outras cidades para votar no Rio. “Do lado de fora do consulado venezuelano, na Praia de Botafogo, um pequeno grupo de partidários de Chávez usava camisas com propaganda e levava bandeiras”.
Muitos eleitores dirigiram-se à Espanha, grande colégio eleitoral venezuelano, para votar. Foi o caso de Hérnan Sarate, segundo o jornal venezuelano “El Nacional”, que deixou Londres, onde reside, com essa intenção. Em Barcelona chegavam ônibus cheios de eleitores provenientes de diferentes localidades do país.
Nos Estados Unidos, com 34.748 pessoas cadastradas para votar, cerca de “19.542 eleitores tiveram que se deslocar de Florida, Carolina do Norte, Carolina do Sul e Geórgia até Nova Orleans em busca de uma seção eleitoral”. Os transtornos causados pelo deslocamento e gastos elevados com transporte, comida e hotel (segundo alguns, perto de US$ 1,000.00), não intimidaram os que decidiram escolher o seu presidente. Com tudo isso, “a maioria dos eleitores, incluindo cadeirantes e idosos, comentava estar feliz por exercer o direito de voto”.
Para nós do Brasil estas informações são significativas porque na Venezuela não existe a obrigatoriedade do voto. E, no entanto, os venezuelanos, mesmo os residentes fora do país, enfrentaram as maiores dificuldades que tiveram para a escolha do seu presidente.
Isso contraria de modo inequívoco os que entendem que, no Brasil, o voto facultativo ampliaria o desinteresse pela eleição. É exatamente o contrário. O fato de não ser obrigatório o sufrágio confere maior seriedade ao pleito. Porque é preciso que os candidatos demonstrem efetivamente que, acima de tudo, está em jogo o destino do país. Como estariam os destinos das cidades, no caso de eleições municipais, como as de ontem no Brasil. Essa é a grande força motivadora capaz de levar o eleitor às urnas. Exatamente porque ele não se acha obrigado a isso.
Não há dúvidas de que, nessas condições, o eleitor se torna mais politizado. Na medida em que diminui o espaço para candidatos aventureiros que contam com a obrigatoriedade do voto para terem acesso ao conjunto excessivo de vantagens e prerrogativas que lhes possibilita o mandato parlamentar, coisa só existente em países como o nosso.
Rio, 08/10/2012