COCADAS DE SAL
Por Carlos Sena


 
Ou raça complicada é gente. Gente gorda quer ficar magra, as magras querem engordar. Mas, quem fica magro sendo gordo, logo dizem que está com AIDS. A última moda das mulheres é peito grande. Quem tem pequeno bota silicone, quem tem exageradamente grande quer tirar metade pra ficar no padrão. Bunda! Ah, a bunda que os pudicos preferem chamar de bum-bum. Mesmo ela – outrora desprezada a segundo plano, agora tá na moda, abundantemente. Homens e mulheres estão cuidando dela, da bichinha. A mulherada está toda se siliconizando, mas os homens, esses, ainda bem que também estão! Nesse quesito SILICONE eles ficam meio a reboque, pois as opcções não são tantas. Mas, homem quem tem pinto pequeno não pode fazê-lo grande via silicone; quem tem grande não quer fazê-lo pequeno ou médio, apesar do avanço da medicina. Afora o pinto, cujas opções são poucas para ser siliconizado, a macharada tá entrando na onda do silicone, escondendo-se no manto da moda metrossexual. Mexe no glúteo (melhor essa palavra do que bum-bum), mexe nos peitos, nas maçãs do rosto. Não assumem, mas mexem. Nada contra e tudo mesmo a favor, pois o que importa é ser feliz. Mas, por outro lado, o que não me importa é que muitos sejam felizes sem saber direito do que isto se trata. Explico: como nossa raça humana é complicada, de repente tem gente que busca a felicidade com os valores dos outros, ou seja, se todos fazem tatuagem, muitos a querem pra si por conta da onda, da moda. Indagamos: depois, quando tudo se transformar, novamente as pessoas ficarão em busca de novos valores da moda para se sentirem bem?
Dá-nos a impressão que vivemos um tempo bem sintonizado com a canção de Raul Seixas: “Se hoje eu sou estrela amanhã já se apagou, se hoje eu te odeio amanhã te tenho amor” (...). Mas esse é o nosso tempo e, a despeito das complicações, das controvérsias, dos valores pouco válidos, estamos aí, sendo felizes mais ou menos ou completamente. Retornando às contradições, nós, bichos homens, ficamos horas numa academia de ginástica, tendo o calçadão da praia para caminhar respirando ar puro e sabendo aonde iremos chegar. Numa esteira eu não consigo entender pra onde aquele povo caminha tanto sem saber aonde chegar. Por outro lado, aquele monte de gente que caminha no calçadão ou no parque, não dá um passo fora de casa se não for de carro. Por que não se caminha a pé para queimar calorias? Como vemos, somos todos loucos. Talvez sãos em nossas loucuras. Apesar de tudo isto, somos inteligentes. Modificamos muita coisa boa e outras ruins, como a degradação da natureza. Por outro lado, temos um açúcar legítimo, original, mas conseguimos inventar um falso açúcar a quem chamamos de adoçante. Na mesma linha temos o sal Light, o leite sem gordura, a margarina sem gordura ruim. O leite em pó. Quem diria que um dia a gente ia fazer leite em pó. E café solúvel, quem diria? Ainda bem que nossa complexidade humana se supera como que compensando o nosso outro lado complicado. Pois é. Mas não nos esqueçamos de que há muita gente doce no mundo. Mas, há também gente insossa e outras que são verdadeiras COCADAS DE SAL.