A FOTO QUE NÃO PUDE POSTAR NO FACE.
Por Carlos Sena
Por Carlos Sena
Fotografar! Quem se atreve viajar em férias sem levar a sua “câmera”? Houve um tempo em que ela se chamava “máquina de tirar retrato” ou fotográfica. O que menos importa, como sabemos, é o seu nome, mas o que ela, a nossa câmera é capaz de nos propiciar pelo prazer das recordações. Por outro lado, parece que nossa “câmera” mental vale pouco. Importa mesmo é mostrar tudo, fotografar tudo, para depois... O depois é um detalhe, pois tem o FACEBOOK por aí mandando folgado nesse quesito tão importante em nossa vida. Não sendo o face a gente sequer materializa as fotos como no passado que elas eram reveladas em papel para a posteridade. Hoje se faz isto, mas muito sem glamour, sem o sentido do álbum, digamos assim. Saudosismo a parte, fotos são fatos que a gente registra pela necessidade que os humanos temos de nos eternizar em vida. Fotografias, de certa maneira eternizam momentos. Imaginem o que seria ir a Paris, visitar a torre Eiffel, o Louvre, o Pere La Chaise, etc. e não tirar uma foto sequer. Também visitar Roma e não fotografar a Sixtina; visitar o Rio e não fotografar o Cristo, ou o Recife e não fotografar as pontes e rios! Seria algo como comer doce e não beber água, fazer sexo e não ter orgasmo, olhar e não ver! O melhor das fotos de hoje é que elas normalmente guardam os momentos bons, mesmo sem se materializar no papel como outrora. Houve um tempo em que se tiravam retratos dos defuntos. No interior era assim: morria um ente querido e os familiares ficavam em volta do caixão e tiravam o retrato. Muitas famílias expunham o tal retrato nas paredes e ainda distribuía com os demais familiares.
Ontem como hoje, as fotos tem seu lado mau, massacrante. Com o passar do tempo elas perdem para os espelhos. O espelho nunca nos trai, já pensaram nisto? Pois bem, nossas fotos nos dizem sem rodeios, por exemplo, que o tempo passou; que nosso rosto não tem mais viço, que nosso corpo não foi abalado pela lei da gravidade. Os retratos com o tempo perdem a cor, as traças fazem festa em cima deles, com a cumplicidade das naftalinas. Mostram-nos também o relativismo da moda – quantas vezes nos horrorizamos vendo fotos antigas em que estávamos vestindo calças pantalona ou sapatos cavalo de aço? Mas, espelhos e fotografias, perdem para a ALMA. Não importa se o tempo corroeu os retratos guardados na caixa lá no fundo do baú; não importa se nossas fotos foram deletadas por um vírus de computador ou se nós, diante de tantos arquivos nos perdemos delas. Se a grande câmera da vida – a mente fotografou nossos melhores momentos, estamos salvos diante de nós. Para nossa mente a câmera mais moderna é o coração. Diante dela, câmera de milhões de megapixels e as velhas máquinas nada valem.
Certa vez, em nossa casa de Gravatá-PE, uma amiga saiu pelos arredores dizendo que ia tirar fotos para colocar no face. Fiquei pensando algo mais ou menos assim: “aonde chegamos” com tanta superficialidade?
Câmera ou máquina fotográfica, foto ou retrato, o coração é maior que eles e não mente. A mente fotografa, o coração registra e a gente torna certas imagens eternas. Essas, o tempo não esmaece, a traça não rói, a naftalina nem chega perto, o vírus do computador não alcança, nem o espelho reflete. Um dia, era tarde chuvosa, meu amor me abraçou, abriu a porta e me disse adeus. Jogou a chave por debaixo da porta enquanto eu chorava sozinho no sofá da sala. Essa “foto” continua viva dentro de mim... E eu não pude colocá-la no facebook.