Sim, ela me ama mesmo assim!

Ela me ama...

A tarde adormecia preguiçosa nos braços da lívida lua desajeitada no céu , e foi despertada por um foguetório sem fim. Tomava banho naquela hora e ouvi dentro do banheiro: Ave Maria, cheia de graça, o senhor é convosco, bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus. Depois um canto arrastado, desses comuns, que toda procissão canta, mas, que nos chama à presença de Deus mesmo assim. Conversei com Nossa Senhora. Ensaboando-me, às pressas, pedi desculpas, porque sempre me esqueço dela. Não sei rezar o terço. Perco-me em meus tortos caminhos. Quando vejo, estou lá na cozinha, pensando no cardápio do dia, na faxina dos armários.... no banco, pagando a taxa de licenciamento, na feira, os ovos acabaram... definitivamente, sou uma filha desnaturada. Reconheço. Não estava com a mínima vontade de ir para o ensaio do Coral. Estaria eu doente? Isto é raro, cantar sempre foi minha vida. Como não gosto de faltar, por respeito aos demais integrantes, troquei-me depressa, engoli qualquer coisa, tomei um copo d’água e fui. Ao adentrar a viela que dá acesso ao Santuário, avistei longe, aos fundos, a gruta de Nossa Senhora de Fátima e, quase que instantaneamente, comecei a rezar a Ave Maria, com fé, implorando perdão. Olhei para o céu, quiçá para colher as parcas estrelas que surgiam no firmamento desbotado. Fui tomada de grande espanto e muita emoção : lá estava Ela. Grande, imensa, bela, olhando pra mim. Não acreditei no que via.... e ela continuava fitando meus olhos com profundo amor. Cheguei mais perto... não tive dúvida, era Ela me recebendo de braços abertos...

Benvinda Palma