Vinte e Cinco Anos
Ele pergunta: - Você está bem?
Ela responde positivamente, como quem não quer mais amolar a paciência do outro.
O dia anterior já havia sido cheio de lamentações e autoflagelações. Ela não queria, por hora, ocupar a mente dele com seus complexos de inferioridade e medos.
De fato, ela havia chegado à fase crítica em que se tem certeza de que não se é mais adolescente. E para refutar qualquer negação da veracidade do peso dos anos, os sinais de expressão vieram como uma conta vencida de hipoteca, avisando: “Você perdeu sua meninice, conforme-se”.
Algo que nela sempre fora tão observado, sua aparência e viço de pessoa jovem, como num piscar de noites mal dormidas, se esvaio. A cada sorriso, sua pele embaixo dos olhos se enchia de linhas indesejadas. Ela almejou ter tido a sorte de Dorian Gray, com um final menos trágico do que o dele. Quis poder guardar sua beleza eternamente estampada em sua face, livre das preocupações, das contas a pagar, das crianças a chorar e da sociedade a julgar.
Depois de refletir em frente ao espelho, ela se deu conta de que esse seria apenas o seu primeiro alarde. Mais tarde viriam esses sinais em dobro. Seu rosto angelical se transformaria em uma máscara fina de gesso trincado, que se desmancharia aos poucos em pó. O que irá restar da aparência daquela moça numa ditadura do belo, na qual as pessoas gostariam de estarem conservadas em formol? Quem a fez assim? Quem pós esse monstro imaginário embaixo da cama dessa menina medrosa? Teriam sido os comentários diários “Eu não lhe daria mais do que dezoito anos”, “Você já tem uma filha? Mas assim tão nova?”.
É triste informar que a novidade agora é outra: aquela menina de rostinho redondo percebeu que seus antigos olhos grandes e vivos agora se curvam a força do tempo. E assim, em alguns dias, ninguém mais dará menos de vinte e cinco anos para aquela moça.