Quando desisti de ser padre.
Nova Era. Minha terra natal e de Elieser Batista, Tilden Santiago,
do Barão de Dumont, o criador do jogo-de-bicho, de Lúcio Flávio,
poeta e bandido, de Cláudio Guerra, deputado, e tantos outros.
Pois bem, cismei de ser padre. Morava próximo a Igreja São José e
me encantava com toda aquela magia entronizando os meus seis
anos. Como sabia ler, ajudava na missa. Tinha função. Com roupa de
coroinha e tudo. Era o mais importante da minha rua.
Na minha casa tinha um porão com um fogão a lenha desativado.
Era o altar. A camisola branca de minha mãe, com rendas, era o
paramento. Pipocas, hóstias. Os fiéis, meus amiguinhos da rua. Eu
rezava a missa inteira, em latim.
Minha mãe me chamou num canto.
__ Cê quer ser padre mesmo, Beto? Bom, padre não pode fumar,
não pode falar palavrão, não pode ter filho...
Domingo. Missa das dez. Igreja cheia. Eu, também, cheio de
orgulho. Lá do altar me preocupava com um garoto. Devia ter a minha
idade ou menos. Não parava quieto. Corria, dava carrinho, rolava no
chão, fazia careta, subia nos bancos e ninguém falava nada. Todos
concentrados na missa. Só eu me incomodava.
Sacristia. O padre nervoso, fulo de raiva. Até vermelho. O menino
num canto, cabisbaixo. O padre xingando.
__ Já te falei, menino filho-da-puta, pra você não vir aqui na hora da
missa... cadê a sua mãe?
__ Foi na feira, pai...
Eu, surpreso, ajudava a tirar os paramentos. O padre-pai foi até um
armário, puxou uma gaveta e de lá de dentro um maço de Continental.
Junto a fumaça, que desaparecia no ar foi a minha vontade de
ser padre.