Reflexões sobre o amor

Estou pensando no amor, e acho que ás vezes confundimos ele com outras coisas... Amor não é aquilo que vem de cara e te faz querer sair transando de novo e de novo, que dá vontade de beijar de sentir o cheiro de tocar a pele. Tudo isso é muito bom, mas é paixão, e como paixão é tão efêmera quanto.

Eu posso dizer que já amei, e ainda amo (porque quando se ama verdadeiramente, o amor não acaba, mas se transforma, se transmuta, em bem querer, em desejar o outro feliz, sem que o desejo exista). E senti que algo diferente acontecia comigo, quando eu não via mais o sexo simplesmente como o sexo e nem meu corpo como um corpo qualquer. Ele, meu amado, meu amor, era tão precioso que eu passei a enxergar meu corpo como um templo para recebê-lo. O sexo passou a ser gostoso e místico ao mesmo tempo.

Não era o tempo que passávamos juntos, mas a certeza de que eu estava ali e ele também. Inteiros, de verdade, sem reservas, sem jogos. O tempo espaço não existiam, eramos um, sendo dois. Tão, tão verdadeiro que chegava a ser inimaginável. E eu me lembro que ele não acreditava em deus, mas ainda assim, era capaz de tornar nossa relação o mais sagrada possível. Os rituais santificados aconteciam no olhar, nos nãos necessários, no sim, nos sacrifícios, no riso compartilhado, nas tardes gostosas passadas juntas, na mera contemplação das horas, na tranquilidade de sentir, mesmo longe, ele dentro de mim, e saber, que eu também estava dentro dele.

O amor não é feito de pele, é feito de escolhas, de bem querer, de cuidar, de doar. E doar-se profundamente não é para qualquer um. Não basta haver um encontro de almas, as almas precisam querer doar-se. Dar-se, enxergar umas as outras. Acredito no amor como uma arte e não como fruto de um feliz acaso ou de uma química louca que de repente o fez querer não desgrudar mais de alguém. Isso é reação química. Passa. E normalmente dói, porque essa tal "química" nos cega tanto, que achamos que amamos alguém que com certeza fantasiamos absurdamente a respeito devido aos hormônios borbulhando.

E desde que amei, e até antes, já tinha feito uma escolha para mim: Procurar o amor, o verdadeiro, Eros. Lembro que eu li tanto sobre isso, (Vênus Pandemus, Vênus Demilus) e eu ficava divagando e tentando entender o que efetivamente poderia ser esse sentimento. Ah... Eu bati muita cabeça!

Especialmente porque o amor é paciente, inegoísta, justo e cercado de coisas belas. Eu, de natureza impaciente e um tanto quanto egoísta (talvez coisa do signo, talvez coisa da imaturidade, da falta de experiência), não dava tempo, não dava espaço, queria, mas não sabia cultivar o amor.

O que eu mais tenho a agradecer a ele, foi a ter me ensinado a amar. E depois do amor, eu sou melhor, e sabe aquela história... Quem já conseguiu enxergar um céu repleto de estrelas dentro de um quarto fechado de apartamento, e viu o céu de uranos se abrir, junto a um coração transbordando de nobreza porque você simplesmente quer que o outro seja feliz, a paixão é... Realmente um resíduo físico insignificante perto dessa corrente do bem mística, divina e infinda que é o amor.

Clarice Ferreira

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