Décio pediu a Zeca para substituí-lo durante um mês na entrega de jornais que ele realizava num bairro específico.
Zeca topou, porque a oportunidade oferecida parecia legal. Bastava acordar cedo (ele já estava acostumado), pedalar firme (Décio tinha uma bicicleta) e efetuar as entregas nos endereços indicados (moleza!).
A experiência prometia ser proveitosa.
No primeiro dia Zeca sentiu uma dificuldade compreensível na hora de localizar alguns endereços, mas, perguntando aqui e ali, conseguiu se safar com destreza.
Perto de concluir suas entregas, restava somente uma clínica pequena localizada no começo de uma ruazinha.
Na recepção uma moça bonita o observou adentrando o recinto, se aproximar e dizer Bom dia!.
A moça simplesmente esticou a mão, pegou o seu exemplar, mas nada respondeu.
Zeca foi embora um pouco envergonhado.
“Mal-educada!”
“Como pode uma coisa dessas? Tão bonita e tão grosseira!”
Encerrou o serviço quase meio-dia, durante a tarde compareceu ao cursinho habitual, à noite preferiu não ligar para a namorada, foi deitar bem cedo, adormeceu rápido.
No outro dia, as entregas fluíram sem dificuldade. Já começava a ficar familiarizado com os locais destacados.
Chegando à clínica, recordou a atendente mal-humorada que, por uma estranha coincidência, encerrava o serviço.
Dessa vez tentou ser o mais discreto possível e, na medida do possível, elegante.
Não adiantou! A moça esticou os braços, pegou o jornal, começou a folheá-lo, nada respondeu.
Zeca saiu chateado.
“Mal-educada! Grosseira!”
No dia posterior, ele resolveu ser totalmente objetivo.
Imaginou que ela não responderia ao cumprimento, portanto considerou importante não criar uma falsa expectativa.
Ele, tentando evidenciar plena seriedade, empurrou a porta de vidro da clínica, entregou o exemplar à moca dizendo Bom dia!.
Logo percebeu que o estado de espírito dele pouco interessava à recepcionista, pois a moça lhe ofereceu novamente um silêncio implacável, pegando o jornal, baixando a cabeça e começando a folhear as páginas conforme fizera nos dias anteriores.
Zeca estava gostando demais do serviço.
A grana era razoável, ele aproveitava o labor para pedalar, aliando assim a obrigação com a atividade física vital.
Desenvolveu amizade com vários assinantes. Certa vez ganhou um bolo de uma simpática velhinha.
Tudo era muito agradável, não pesava, parecia uma ótima distração que ainda lhe permitia ganhar um trocado.
Mas, considerando que nada é perfeito, existia a moça grosseira da clínica na qual ele encerrava sua tarefa diária.
Sobre isso não ocorreu nenhuma novidade.
Ela sempre estava ali, sentadinha, sozinha e grosseirinha.
A moça permanecia indiferente ao Bom dia! que Zeca sempre lhe ofertava.
Era uma questão de honra! Jamais ele deixaria de saudar uma pessoa!
Ele aprendeu com os queridos pais.
“Zequinha, sempre cumprimente as pessoas na entrada e saída de um lugar!”
Se a moça não respondia, o problema era dela!
Ele chegou a imaginar que ela talvez fosse surda, entretanto havia sinais nítidos indicando que ela escutava Zeca empurrar a porta e se aproximar da recepção.
Definitivamente concluiu que o problema não era surdez, mas estupidez.
Dúvidas e deduções à parte, esquecendo a grosseria diária da moça, Zeca curtiu o serviço cada vez mais.
A namorada, durante o pouco tempo que ficava com ele, achou Zeca muito animado.
O trabalho suscitou um bem-estar incrível ao futuro universitário.
Que pena o serviço acabar!
No último dia, empurrou a porta da clínica, falou Bom dia! quase sem perceber, entregou o jornal derradeiro e saiu quando surpreso escutou uma suave voz respondendo Bom dia!.
Estupefato ele virou e pôde notar a moça começando a folhear o jornal com um leve sorriso no rosto.
Parecia um milagre! Estaria ouvindo vozes?
Saiu consciente de que estava encerrando sua jornada, contudo não sentia qualquer tristeza, pois talvez, no porvir, tivesse outra oportunidade e, principalmente, porque a moça silenciosa (não mais grosseira) da clínica que assinalava o fim de sua tarefa diária, no dia exato em que ele estava concluindo o compromisso assumido com o amigo Décio, falara Bom dia!.
Ele estava encerrando uma etapa, entretanto, filosofando com os seus botões, imaginou que o fato vivenciado talvez estivesse iniciando uma nova fase, um recomeço, uma retomada de direção, sugerindo grande renovação e esperança.
Quem sabe a moça, a partir daquele instante, sempre diria Bom dia!!
Talvez uma nova alma, a partir daquele instante, estivesse sendo contada nos Ceús!
O mundo era melhor, a vida ganhava um sentido especial. Dessa vez, pedalando devagar a bicicleta que o amigo lhe emprestara, Zeca sorriu um sorriso diferente demais, cativante, muito gostoso...
Ele experimentava uma sensação muito difícil de ser descrita através de palavras inspiradas ou belas metáforas.
Acho que até os poetas geniais encontrariam dificuldade de expressar perfeitamente o sentimento do nosso simpático entregador de jornais após escutar aquele Bom dia!.
Um abraço!
Zeca topou, porque a oportunidade oferecida parecia legal. Bastava acordar cedo (ele já estava acostumado), pedalar firme (Décio tinha uma bicicleta) e efetuar as entregas nos endereços indicados (moleza!).
A experiência prometia ser proveitosa.
No primeiro dia Zeca sentiu uma dificuldade compreensível na hora de localizar alguns endereços, mas, perguntando aqui e ali, conseguiu se safar com destreza.
Perto de concluir suas entregas, restava somente uma clínica pequena localizada no começo de uma ruazinha.
Na recepção uma moça bonita o observou adentrando o recinto, se aproximar e dizer Bom dia!.
A moça simplesmente esticou a mão, pegou o seu exemplar, mas nada respondeu.
Zeca foi embora um pouco envergonhado.
“Mal-educada!”
“Como pode uma coisa dessas? Tão bonita e tão grosseira!”
Encerrou o serviço quase meio-dia, durante a tarde compareceu ao cursinho habitual, à noite preferiu não ligar para a namorada, foi deitar bem cedo, adormeceu rápido.
No outro dia, as entregas fluíram sem dificuldade. Já começava a ficar familiarizado com os locais destacados.
Chegando à clínica, recordou a atendente mal-humorada que, por uma estranha coincidência, encerrava o serviço.
Dessa vez tentou ser o mais discreto possível e, na medida do possível, elegante.
Não adiantou! A moça esticou os braços, pegou o jornal, começou a folheá-lo, nada respondeu.
Zeca saiu chateado.
“Mal-educada! Grosseira!”
No dia posterior, ele resolveu ser totalmente objetivo.
Imaginou que ela não responderia ao cumprimento, portanto considerou importante não criar uma falsa expectativa.
Ele, tentando evidenciar plena seriedade, empurrou a porta de vidro da clínica, entregou o exemplar à moca dizendo Bom dia!.
Logo percebeu que o estado de espírito dele pouco interessava à recepcionista, pois a moça lhe ofereceu novamente um silêncio implacável, pegando o jornal, baixando a cabeça e começando a folhear as páginas conforme fizera nos dias anteriores.
Zeca estava gostando demais do serviço.
A grana era razoável, ele aproveitava o labor para pedalar, aliando assim a obrigação com a atividade física vital.
Desenvolveu amizade com vários assinantes. Certa vez ganhou um bolo de uma simpática velhinha.
Tudo era muito agradável, não pesava, parecia uma ótima distração que ainda lhe permitia ganhar um trocado.
Mas, considerando que nada é perfeito, existia a moça grosseira da clínica na qual ele encerrava sua tarefa diária.
Sobre isso não ocorreu nenhuma novidade.
Ela sempre estava ali, sentadinha, sozinha e grosseirinha.
A moça permanecia indiferente ao Bom dia! que Zeca sempre lhe ofertava.
Era uma questão de honra! Jamais ele deixaria de saudar uma pessoa!
Ele aprendeu com os queridos pais.
“Zequinha, sempre cumprimente as pessoas na entrada e saída de um lugar!”
Se a moça não respondia, o problema era dela!
Ele chegou a imaginar que ela talvez fosse surda, entretanto havia sinais nítidos indicando que ela escutava Zeca empurrar a porta e se aproximar da recepção.
Definitivamente concluiu que o problema não era surdez, mas estupidez.
Dúvidas e deduções à parte, esquecendo a grosseria diária da moça, Zeca curtiu o serviço cada vez mais.
A namorada, durante o pouco tempo que ficava com ele, achou Zeca muito animado.
O trabalho suscitou um bem-estar incrível ao futuro universitário.
Que pena o serviço acabar!
No último dia, empurrou a porta da clínica, falou Bom dia! quase sem perceber, entregou o jornal derradeiro e saiu quando surpreso escutou uma suave voz respondendo Bom dia!.
Estupefato ele virou e pôde notar a moça começando a folhear o jornal com um leve sorriso no rosto.
Parecia um milagre! Estaria ouvindo vozes?
Saiu consciente de que estava encerrando sua jornada, contudo não sentia qualquer tristeza, pois talvez, no porvir, tivesse outra oportunidade e, principalmente, porque a moça silenciosa (não mais grosseira) da clínica que assinalava o fim de sua tarefa diária, no dia exato em que ele estava concluindo o compromisso assumido com o amigo Décio, falara Bom dia!.
Ele estava encerrando uma etapa, entretanto, filosofando com os seus botões, imaginou que o fato vivenciado talvez estivesse iniciando uma nova fase, um recomeço, uma retomada de direção, sugerindo grande renovação e esperança.
Quem sabe a moça, a partir daquele instante, sempre diria Bom dia!!
Talvez uma nova alma, a partir daquele instante, estivesse sendo contada nos Ceús!
O mundo era melhor, a vida ganhava um sentido especial. Dessa vez, pedalando devagar a bicicleta que o amigo lhe emprestara, Zeca sorriu um sorriso diferente demais, cativante, muito gostoso...
Ele experimentava uma sensação muito difícil de ser descrita através de palavras inspiradas ou belas metáforas.
Acho que até os poetas geniais encontrariam dificuldade de expressar perfeitamente o sentimento do nosso simpático entregador de jornais após escutar aquele Bom dia!.
Um abraço!