A MINHA PROFESSORA DO PRIMÁRIO

Os cabelos já eram brancos, e por isso denunciavam que a idade lhe havia avançado muito depois daqueles anos em que fui seu aluno. Algumas rugas a mais apareceram e no entanto ela conversava consigo aquele traço de jovialidade que tanto nos encantava ainda nas primeiras séries da escola, quando nem pensávamos em futuro, em profissão, em dívidas a serem pagas, em problemas com relacionamentos, com decepções amorosas e profissionais, quando ainda éramos apenas crianças, no auge da alegria e com a fome inesgotável de aprender. Já caminhava mais lentamente, mas com a mesma altivez de outrora, com postura irretocável que a fazia diferente de tantas outras pessoas. A vida lhe trouxe algumas partidas, algumas perdas no entanto parecia inabalável a tudo isso como se uma força maior a movesse, a impulsionasse para frente. Agora já aposentada, encontrava-a de vez em quando pelas ruas da cidade e a cada encontra um reavivar de emoções e lembranças, daquelas que a gente guarda no mais íntimo do coração. Era minha professora de primário. Com quem o meu conhecimento ganhou corpo, com quem aprendi a ver o mundo de outra forma e entender que um conjunto de traços, pingos, pontos e vírgulas poderia modificar toda a humanidade. Lembro-me dela da frente da sala de aula, com seus olhos brilhantes, ainda quando seus cabelos eram castanhos e o tempo não os havia embranquecido. Falava-nos do conhecimento de forma tão efusiva que éramos levados a querer buscá-lo cada dia mais e mais. Magra, sem com cabelos alinhados, sua elegância destacava-se das demais. Habilidosa com as artes em todas as suas manifestações a sua aula era um verdadeiro banho de cultura, de civismo, de etiqueta e porque não dizer de auto-estima, já que fazia questão de reconhecer a inteligência dos seus alunos e recompensar aqueles que mais se esforçavam em suas aulas. Carinhosa, não iniciava suas aulas sem o bom dia acompanhado inexoravelmente do sorriso que só ela sabia trazer nos lábios. Além disso, naquela época em que se podia falar de Deus nas escolas sem correr o risco de ser mal interpretado, era ela quem na escola reforçava a oração de casa, além é claro de nos incentivar a ter um espírito patriota e de compromisso com os nossos semelhantes. Já se vai algum tempo que tudo isso aconteceu. No entanto, ontem, no dia do Professor, a sua imagem me veio a mente por várias vezes. Pensei em toda a trajetória dessa importante mulher em minha vida. Pensei em tudo o que ela me fez, me ajudou, me acrescentou e não pude deixar de me emocionar. Talvez em nem tenha tido tempo todos estes anos de falar a ela de gratidão porque depois que crescemos nos preocupamos com o trabalho, a profissão, a família, e vamos nos esquecendo daqueles sentimentos que ela tanto nos transmitiu durante o tempo que nos deu aula. E não pude deixar de me emocionar, ao pensar que o tempo pode ter embranquecido os seus cabelos, lhe acrescentado rugas, e tê-la até machucado em alguns momentos, mas não teve o poder de tirar dela o brilho, a elegância, a quietude de coração e acima de tudo o amor de ter sido professora. Essa homenagem poderia ter sido ontem, dia do Professor, mas talvez parecesse frugal demais. Melhor que seja hoje, um dia comum, um dia sem nada de especial, apenas para lembrar a ela, que mesmo passado tanto tempo ela continua sendo em minha vida uma referência em conhecimento, em conduta e em sentimentos e se eu não pude lhe falar tudo isso até agora, que esse seja o momento. Obrigado por ter me ensinado tanto e me ter feito uma pessoa melhor. FELIZ DIA DO PROFESSOR em todos os dias da sua vida.

Em homenagem especial a todos os meus ex-professores, e de forma especial a minha mãe Maria Izabel De Martin Coan, professora por toda uma vida, a miinha professora de alfabetização Euterpe Tereza Diniz Gasparino e a minha professora Alda Venturini Colnago (Dona Didi). E in memorian as professoras Izalda Maria Pereira de Oliveira e Maria de Lurdes Moreira de Assis (Dona Lurdinha).