FOLHADO DE CANJA

Quando se trabalha num lugar como a Barra, num dia de feriado, em que o comércio é quase todo fechado fica-se muito limitado na hora do almoço. E por um mistério de nossa existência é justamente nessas ocasiões que não se traz nada de casa, não se come nada em casa. Ou seja, a fome não perdoa.

Como uma criança que acredita em Papai Noel, eu acreditei que poderia comer algo decente hoje, mas não passou de uma utopia. Seguida de um assassinato, certamente. Explico: se você almoça num restaurante à la carte ( porque os self-services estavam fechados), você "assassina" seu bolso. Se você decide fazer o que eu fiz, comprar uma "besteira" pra gastar o mínimo (ilusão), o que você "assassina" é seu estômago.

Meu drama começou na primeira tentativa. Um croissant (que cara de pau chamarem assim) de queijo. Na primeira mordida constatei que o queijo também havia decidido folgar no feriado e ficou em algum lugar distante, pois só havia massa e...um fio de

cabelo! Na mesma hora foram pro lixo o cabelo, o tal croissant e minha dignidade. Só ficou a fome, estranhamente solidária, com pena de me abandonar.

Na segunda tentativa, em um outro lugar, tentei um folhado de frango. Tinha nele tanto creme que poderia contar os fiapos da ave se eu quisesse. Então procurei abstrair, mas foi pior: é que ao fechar os olhos, tive a sensação de estar tomando canja. Sim, era gosto de canja. Só que no lugar do arroz era massa folhada. Folhado de canja, uma novidade gastronômica.

Dessa vez, minha fome saiu correndo de mim, claro. Não suportou mais nossa relação.

Ianick Pinheiro
Enviado por Ianick Pinheiro em 15/10/2012
Reeditado em 15/10/2012
Código do texto: T3934918
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