PLIM PLIM, DOIS PRA LIGHT, UM PRA MIM!

Na metade dos anos 50, meu pai comprou um apartamento em Santos, no Edifício Jardim do Atlântico. Nem preciso dizer que nossas férias passaram a ser ali. Esse prédio foi a coqueluche da época. Era completo. Em sua parte térrea, além de restaurantes, tinha diversos recantos, onde realizávamos bailes, jogos, e muitas outras brincadeiras de salão. Era composto por duas torres, e entre uma e outra, os jardins bonitos e muito bem cuidados. O terreno ia da avenida da praia, até a rua de traz. Muito extenso. Em seu fundo havia um ringue de patinação e uma quadra de tênis. E, depois, imensa garagem coberta. O número de apartamentos era muito grande, o que levava a ter uma população maior do que algumas cidades do interior. A mocidade, então, compunha-se de dezenas e dezenas de moças e rapazes. Resultava, assim, que não havia necessidade de se sair do prédio, para as diversões próprias da idade. Somente, quando íamos ao cinema.

Quantos e quantos namoros surgiram, muitos, até, acabando em casamento!

Inesquecíveis os carnavais, quando saíamos em corso, pela avenida da praia. Muito confete, serpentina e...farinha! À época, Santos promovia o “Banho da Dorotéia”, um desfile de carros pela avenida, com diversos componentes, terminando na Ponta da Praia, com a figura principal saltando de um trampolim, no mar. Não sei se essa tradição ainda permanece.

Um morador do prédio, o Orlando, era ligado ao Santos F. C. e, numa determinada ocasião em que eu estava lá, me convidou para assistir um jogo na Vila Belmiro. Imagina se não fui! O Santos goleou o adversário, um clube do interior, se não me engano o XV de Jaú. Terminado o jogo, o Orlando me levou aos vestiários, e aí cumprimentei o Pelé tomando banho, como ele veio ao mundo.

Uma das coisas que jamais esqueço, era o passeio no bonde que passava defronte ao prédio. O trajeto completo ia da Ponta da Praia, até São Vicente, cidade vizinha. Creio que uns dez a doze quilômetros. O grande programa era pegá-lo e descer no ponto final, numa praça.

Aí existiam sorveterias famosas, completando nosso passeio com deliciosos sundays.

Os bondes eram abertos e o cobrador caminhava pelo estribo, fazendo a cobrança da passagem. A cada uma paga, marcava ele o recebimento, puxando uma alça suspensa, que soava um plim... plim!

Daí o povo, sempre disposto a criar as mais divertidas situações, inventou o estribilho que serve como nome desta crônica, duvidando da honestidade do cobrador.

PLIM...PLIM! DOIS P’RA LIGHT UM P’RA MIM!

Mantivemos o apartamento até 1970, tendo frequentado o mesmo, após casado. Com a morte de minha mãe, que o adorava, meu pai resolveu vendê-lo.

Foram anos e anos de muita diversão.

A saudade daquele período é muito grande! Tempo de indeléveis recordações!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 15/10/2012
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