TRAVESSURA DE CRIANÇA

Ao longe, ouvia-se o sibilo do trem, que anunciava sua chegada em breve. A máquina a óleo, como era conhecida, mostrava sua cara, vermelho-amarela, na última curva da estrada de ferro. Após dois minutos, parava na estação da pacata cidadezinha, onde já se amontoavam dezenas de pessoas.

Permanecia ali, por quinze minutos, depois partiria para outra cidade. O corre-corre era geral. Dona Maria, tinha pressa em realizar suas vendinhas, para ajudar no sustento da família, e para atrair a clientela, gritava: “Olha a cocada...,olha a cocada”. Sr. Joaquim, respondia: “Olha a pipoca e o amendoim torrado”, também “trago milho quentinho na panela”- “moça bonita, não paga, mas também não leva”. No desejo de realizarem a melhor venda, acotovelavam-se pelo estreito corredor do vagão; também competiam no comércio ambulante, D. Rosa “dos bejus”, Sr. José “das laranjas”... Do lado de fora, algumas pessoas, curiosas, recostavam-se nas frondosas raízes (externas), do velho Tamboril, para observarem de lá o movimento dos passageiros.

O antigo trem, era a atração do lugar. Não se cansavam da rotina vespertina. Aliás, de rotina não tinha nada, todo dia, caras novas, iam e vinham. Ainda, na estação, viam-se pessoas com rostos tristes, despedindo-se de familiares, de amigos e; rostos felizes, receptivos à chegada de entes queridos. Passavam-se os minutos assim... Entre despedidas, acolhimentos, e vendas; tudo numa incrível velocidade.

Ah! E por falar em velocidade, também era dessa forma que as crianças driblavam seus pais, tios, parentes... E que num piscar de olhos, saltavam no trem, sem serem vistas. Vez por outra, ouvia-se: onde está Mariazinha? Onde estão as crianças? Enquanto isso... O trem emitia um silvo, anunciando sua partida. Lá dentro, escondidinhas no vagão, encontrava-se a turma: Ana, Solange, Gina, Nete e Mariazinha. De vez em quando, cochichavam, soltavam risinhos; felizes, pela travessura. À medida que a máquina a óleo avançava, aumentava sua velocidade, e estridentes apitos, feitos uivos, cortavam o céu - Piiiiiuuiiiiii...piiiiuuiiiii...(café com pão, manteiga não; café com pão manteiga não...,) cantavam em coro, as crianças, imitando a canção dos solavancos do trem.

Após três ou quatro minutos, nas proximidades de um monte de areia, à beira da estrada de ferro, a turminha se preparava para o salto! No momento certo, pulou: Nete, Mariazinha, Ana e Gina, respectivamente. De repente, Gina, fala sobressaltada: “A Solange ficou, ela não conseguiu pular”. A turminha entra em desespero e grita a uma só voz: Pula, Solange...pula, Solange... Pobre Solange! A coragem lhe faltara, e ela só conseguiu descer na próxima estação.

Aila Brito
Enviado por Aila Brito em 14/10/2012
Reeditado em 28/01/2021
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