A IMATURIDADE É REPITHIANA
Uma dessas coisas que ocorre por vezes é a lembrança da adolescência. Aos dezesseis anos, eu e uma amiga queridíssima, a Luca, inventamos uma palavra: “Repithiana”. Nem sei se é a grafia correta porque nunca a escrevemos, só a pronunciamos milhões de vezes. Usávamo-la para substituir qualquer palavra, como um código, uma linguagem só nossa. Não havia regras, nem era duplo sentido e estas coisas. Era só uma conversa estranha aos outros e literalmente simples para a dupla adolescente.
Ficávamos sentadas na calçada no topo de uma rua do centro, tomando refrigerante, e olhando o movimento. E a nossa conclusão é que a vida era pura repithiana!
Não bebo mais refrigerante, agora bebo café, sem açúcar, meio forte. Penso que isto seja uma comprovação do meu amadurecimento. Afinal pessoas maduras tomam café. Comprei uma destas xícaras de porcelana branca, em uma loja de gente grã-fina. Na promoção, claro! Embora isto não me pareça uma coisa madura.
As minhas gavetas, aos dezesseis, eram uma zona, coloridas e embaixo das roupas, guardava os meus segredos. Hoje possuo uma gaveta impecável, separada por cores, mas ainda guardo lá embaixo das roupas, os meus segredos. Talvez maturidade seja se tornar organizado. E os segredos? Acho que ter segredos é maturidade, porque os segredos amadurecem com a gente.
Minha maior imaturidade é o medo do escuro, durmo com a luz acesa. E quando fecho os olhos tenho mais medo ainda deste escuro. Sem maturidade suficiente para enfrentar esta minha escuridão, me levanto, passo um café. Enfrento a insônia sorvendo goles quentes do líquido da maturidade, naquela minha xícara, a branca da loja chique. Chego à varanda, observo a cidade e a minha conclusão ainda é a mesma: A vida é pura repithiana!