PRIMAVERA E MORANGOS SILVESTRES

A primavera esboça primevos sorrisos tão seus, e conosco gosta de compartilha-los através das flores que vão desabrochando, e das árvores que timidamente tentam se revestir de verde, mas o tempo com suas bipolaridades de humor, ora de chuva, outras vezes de um vento ainda de altos e baixos, maltrata as belas flores, que teimosamente vão desabrochando, nos nossos jardins e pelos campos.

Alvissaras, hoje enfim, o dia nasceu azul e de um sol luminoso, ainda que uma aragem com resquícios do frio invernal teima em retardar o doce encanto primaveril. Não sei se é pelo motivo de ser este o dia, que esta quase menina crónica escrevo, dedicada ao dia da criança, ou por ter visto dias atrás o filme morangos silvestres, ou qual o motivo, em mim renasceram lembranças que há muito não me visitavam, mas que estavam apenas adormecidas lá num escaninho, onde se guardam as coisas boas que um dia mais amamos. Lembrei-me então de outras primaveras, dos campos floridos de flores silvestres, e em especial dos morangos silvestres que eu tantas vezes colhi. É que na Europa esta espécie de morangos é muito comum, assim como comum são as belas papoilas que no verão enchem os campos de uma beleza tão delicada e telúrica que extasia o olhar e enche de doces eflúvios a nossa alma.

Quantas vezes, quando pequeno rolei por sobre o azevém que nesta estação reveste os campos e, sobre as flores de pampilhos amarelos e uma infinidade de outras flores que compõem uma extraordinária aguarela como nenhum pintor consegue transpor para a tela ainda que lhe sobre talento e arte . Era entre essa variedade imensa de plantas que cresciam os morangos silvestres, que nos espreitavam por entre essas ervas, os quais nos davam a impressão rogar, os fôssemos colher e, era em cambo feito dos caules do azevém que assim eram colhidos. Não há como não se deixar contaminar ante tão variegada e colorida vegetação toda a explodir de vida por todo lado, graças ao milagre da seiva nova que numa fantástica urgia, toma conta das plantas e animais. Não há como não se render a seus encantos, aos perfumes que a terra dadivosa nos presenteia e que, de inopino, invadem todos os nossos sentidos .

A primavera é a criança das estações, é a ave que ensaia o seu primeiro voo para a liberdade, é a lembrança menina, que há de perdurar vida afora toda carregadinha de sabores tão doces como os morangos silvestres da minha querida e doce infância.

Eduardo de Almeida Farias
Enviado por Eduardo de Almeida Farias em 14/10/2012
Reeditado em 18/10/2012
Código do texto: T3932039
Classificação de conteúdo: seguro