REDESCOBRINDO O AMOR

REDESCOBRIR O AMOR

Eu estava no Ferri-boat apreciando as gaivotas sobrevoando as ondas espumantes que os motores deixavam pata traz. A tarde aos poucos abandonava aquele cenário bucólico em dia de verão ardente, e o sol, aquela bola rubro-alaranjada mergulhava sobre as duas ilhas sobrepostas rumo ao infinito mar... Ainda não era noite nem tampouco dia, um pouco de cada mas, tudo era ou parecia poesia. Aquelas estrofes que só o coração escreve, mas que somente uma alma apaixonada consegue ler.

Sinto que os dias se passam céleres e o tempo não é mais o mesmo. Quase não chove, os rios secam cada vez mais e a vida padece, as flores não desabrocham e já não há mais frutos a colher. O ódio inflama com furor e os corações antes enternecidos, petrificaram. Estou cansado de ver coisas que jamais pensei ver, o terror absoluto e não é filme, a cena real, ouço choros, lamurias e pedidos de clemencia, piedade. Visivelmente abatido, combatido, há dias não aparo a barba e os cabelos. Falo com Deus, mas não sei se ele me escuta, sinto a minha pele ressecada pela aridez das intempéries, aquele aperto na garganta, a boca seca, sedenta de teus beijos, soluço e choro, mas as lagrimas não correm no meu rosto, é que elas desaguaram no oceano da solidão.

Hoje eu tenho duvidas se ainda vou te ver. É que estamos no limiar de uma era , o tempo finda e nós, onde estamos. Onde vamos chegar. Até onde nascem as cachoeiras, por lá as aguas são límpidas e cristalinas, as flores desabrocham, os frutos brotam nas arvores e até arrisco que lá se encontra a felicidade. E, se caminharmos na mesma direção, nesses meus 62 anos de idade possa eu redescobrir o amor...