Hoje, 11 de outubro, na cidade do Vaticano o Papa Bento XVI abriu o “ano da fé” durante as celebrações do 50º aniversário do Concílio Vaticano II.
O Papa declarou abertamente sua decepção com a crise de fé que atinge especialmente o continente europeu, onde o cristianismo plasmou a primeira civilização com sua marca registrada . Reunidos em Sínodo a elite do episcopado católico busca providências para estancar esta hemorragia que ameaça debilitar ainda mais a “cultura cristã”.
São “sinais dos tempos”, que nos alertam para a urgência da mudança de rumos, que a humanidade é chamada a empreender.
Independente da consistência da fé e de suas repercussões imediatas, o “ano da fé” aponta para a necessidade de buscarmos os caminhos de Deus, e colocar-nos em sintonia com sua vontade, para que o mundo reencontre os rumos de sua sobrevivência, na harmonia com a natureza, e na justiça e fraternidade entre todos os seres humanos. A fé não dispensa a razão. Ao contrário, quanto mais usarmos a razão humana, para perguntar, visando compreender, tanto melhor acolhemos o mistério de Deus, que quis se revelar à humanidade. Neste ano a humanidade chegou a sete bilhões. Ah este nosso mundo. Em nome da fé quantas barbaridades se cometem! Para conferir basta recordar algumas que aguardam desfecho definitivo e que desmentem cabalmente a presunção que fé e política são incompatíveis: no mês de junho, a “Rio+20”, o encontro das Nações Unidas sobre os desafios ambientais, na seqüência da “Eco 92”, de vinte anos atrás. Tal encontro deixou a nítida impressão de querer se ver livre de compromissos, que ele deixa como herança para os anos que vêm pela frente, com a carga pesada que preanunciam.
As populações árabes surpreenderam com suas manifestações massivas, clamando por mudanças, sacudindo arcaísmos, postulando abertura para valores da modernidade. E o que resultou de prático até agora?
O ocidente, que em 2011, insuflou tanto a guerra civil na Líbia, até conseguir que Kadafi fosse morto. E agora, a que serviu derramar tanto sangue? Quais eram os interesses de tantas partes envolvidas?
Bin Laden, no mesmo período, foi morto, numa cena de descarada vingança, que nos entristeceu como raça humana. Será que serviu alguma coisa para diminuir o ódio que fomenta radicalismos cegos e impiedosos?
Irrompeu de novo, com virulência multiplicada, a crise que se abate sobre a Europa, que já causou estragos em todo o “primeiro mundo”, e que mostra ser muito mais profunda do que uma simples crise econômica. Na verdade, ela é uma crise de civilização, de um sistema que está mostrando seu esgotamento. Repensar um novo projeto de civilização não é tarefa simples, nem de um ano só. Provavelmente, as mudanças mais significativas e mais profundas só serão tomadas sob forte pressão dos fatos, como é de praxe acontecer na história.
Nesse 50º aniversário do Vaticano II se alguém me dissesse que de todo o Concílio e de seu trabalho renovador na Igreja eu só poderia escolher uma coisa que eu gostaria que retomasse na minha Igreja, - e só pudesse ser uma coisa só, eu não hesitaria um instante. Escolheria o diálogo amoroso com a humanidade. Gostaria de ver novamente os pastores da Igreja a falar como irmãos e não como juízes, como parceiros de busca e não como fiscais da ética sexual da humanidade. Gostaria de ver um papa novamente humano e bondoso como João XXIII - sorridente e otimista, sem passar medo dele em relação ao mundo e medo do mundo em relação a ele. No discurso inaugural do Concílio, amanhã fará exatamente 50 anos, o papa João XXIII disse que a partir daquele momento a Igreja não falaria mais palavras de julgamento e de condenação de ninguém, mas de misericórdia e de diálogo. Que pena que isso mudou e desde o pontificado de João Paulo II já são mais de 150 teólogos e teólogas condenados, excluídos do ensino em instituições católicas e que nem tiveram ou têm o direito de se defender. Ficou no passado, aquela imagem de Igreja mãe e mestra amorosa que João XXIII propunha. Naquele 11 de outubro, há meio século, à noite, ele despedia o povo reunido em multidão na praça de São Pedro com o famoso discurso da lua. Convidou a multidão a ver a lua cheia e disse: voltem para casa e a quem encontrarem por primeiro dêem um beijo ou façam um carinho e digam que foi o papa que mandou esse carinho para eles ou elas. Que o Espírito Santo nos dê novamente uma Igreja assim, pobre, simples e aberta a toda a humanidade.
“A fé é um modo de já possuir o que se espera...” Hb 11,1
O Papa declarou abertamente sua decepção com a crise de fé que atinge especialmente o continente europeu, onde o cristianismo plasmou a primeira civilização com sua marca registrada . Reunidos em Sínodo a elite do episcopado católico busca providências para estancar esta hemorragia que ameaça debilitar ainda mais a “cultura cristã”.
São “sinais dos tempos”, que nos alertam para a urgência da mudança de rumos, que a humanidade é chamada a empreender.
Independente da consistência da fé e de suas repercussões imediatas, o “ano da fé” aponta para a necessidade de buscarmos os caminhos de Deus, e colocar-nos em sintonia com sua vontade, para que o mundo reencontre os rumos de sua sobrevivência, na harmonia com a natureza, e na justiça e fraternidade entre todos os seres humanos. A fé não dispensa a razão. Ao contrário, quanto mais usarmos a razão humana, para perguntar, visando compreender, tanto melhor acolhemos o mistério de Deus, que quis se revelar à humanidade. Neste ano a humanidade chegou a sete bilhões. Ah este nosso mundo. Em nome da fé quantas barbaridades se cometem! Para conferir basta recordar algumas que aguardam desfecho definitivo e que desmentem cabalmente a presunção que fé e política são incompatíveis: no mês de junho, a “Rio+20”, o encontro das Nações Unidas sobre os desafios ambientais, na seqüência da “Eco 92”, de vinte anos atrás. Tal encontro deixou a nítida impressão de querer se ver livre de compromissos, que ele deixa como herança para os anos que vêm pela frente, com a carga pesada que preanunciam.
As populações árabes surpreenderam com suas manifestações massivas, clamando por mudanças, sacudindo arcaísmos, postulando abertura para valores da modernidade. E o que resultou de prático até agora?
O ocidente, que em 2011, insuflou tanto a guerra civil na Líbia, até conseguir que Kadafi fosse morto. E agora, a que serviu derramar tanto sangue? Quais eram os interesses de tantas partes envolvidas?
Bin Laden, no mesmo período, foi morto, numa cena de descarada vingança, que nos entristeceu como raça humana. Será que serviu alguma coisa para diminuir o ódio que fomenta radicalismos cegos e impiedosos?
Irrompeu de novo, com virulência multiplicada, a crise que se abate sobre a Europa, que já causou estragos em todo o “primeiro mundo”, e que mostra ser muito mais profunda do que uma simples crise econômica. Na verdade, ela é uma crise de civilização, de um sistema que está mostrando seu esgotamento. Repensar um novo projeto de civilização não é tarefa simples, nem de um ano só. Provavelmente, as mudanças mais significativas e mais profundas só serão tomadas sob forte pressão dos fatos, como é de praxe acontecer na história.
Nesse 50º aniversário do Vaticano II se alguém me dissesse que de todo o Concílio e de seu trabalho renovador na Igreja eu só poderia escolher uma coisa que eu gostaria que retomasse na minha Igreja, - e só pudesse ser uma coisa só, eu não hesitaria um instante. Escolheria o diálogo amoroso com a humanidade. Gostaria de ver novamente os pastores da Igreja a falar como irmãos e não como juízes, como parceiros de busca e não como fiscais da ética sexual da humanidade. Gostaria de ver um papa novamente humano e bondoso como João XXIII - sorridente e otimista, sem passar medo dele em relação ao mundo e medo do mundo em relação a ele. No discurso inaugural do Concílio, amanhã fará exatamente 50 anos, o papa João XXIII disse que a partir daquele momento a Igreja não falaria mais palavras de julgamento e de condenação de ninguém, mas de misericórdia e de diálogo. Que pena que isso mudou e desde o pontificado de João Paulo II já são mais de 150 teólogos e teólogas condenados, excluídos do ensino em instituições católicas e que nem tiveram ou têm o direito de se defender. Ficou no passado, aquela imagem de Igreja mãe e mestra amorosa que João XXIII propunha. Naquele 11 de outubro, há meio século, à noite, ele despedia o povo reunido em multidão na praça de São Pedro com o famoso discurso da lua. Convidou a multidão a ver a lua cheia e disse: voltem para casa e a quem encontrarem por primeiro dêem um beijo ou façam um carinho e digam que foi o papa que mandou esse carinho para eles ou elas. Que o Espírito Santo nos dê novamente uma Igreja assim, pobre, simples e aberta a toda a humanidade.
“A fé é um modo de já possuir o que se espera...” Hb 11,1