Galinhas e Galinhas
Galinha de casa não se corre atrás.

 
Eu tenho um amigo meio galinha. Melhor. Vivemos em tempos de fast-food, eu tenho vários amigos galinha. É até injusto compará-los às mais dignas representantes da espécie bípede emplumada, mas, não vim aqui para discutir jargões já amplamente solidificados na língua portuguesa ou atitudes superficiais e pouco comprometidas de toda uma geração. Voltemos ao meu amigo galinha. Para evitar danos à moral dele, vamos chamá-lo de AC.

AC tem um “rolo”. Uma mulher com quem ele mantém um relacionamento simbiótico. Nas palavras dele:

- Ela me ajuda...

E, como continuam juntos, creio que ela pense o mesmo.

Ele jura que nunca prometeu compromisso, deixa claro que só quer, no melhor estilo robertocarleano, “sexo e amizade” e que ela entende. Duvido e a atitude dela comprovou que eu tenho razão. Dia desses, estavam brigados. Perguntei porquê.

- Ah! Mania de aparecer nos bares que eu freqüento sem avisar! Chegou lá, me viu xavecando uma colega do trabalho, mandou um torpedo: “a amizade acabou”.

- E você?

- Eu, nada! Deixa ela. Daqui a pouco passa.

- E a outra?

- Ah! Essa é pra casar!

- É? Ficaram juntos?

- Fez jogo duro. Desisti.

- Rá! Bem feito! Ficou sem nenhuma!

Ele deu de ombros:

- Galinha de casa não se corre atrás.

Ou seja, pra que pressa? A outra trabalha com ele. Vai continuar dando em cima, devagarinho, um café aqui, um chopinho ali e, a qualquer momento, pimba. Mais uma pro cabedal.
Agora, esqueçamos o AC um pouco. Vamos nos fixar apenas nesta sua última e importante contribuição para a qualidade de seu relacionamento. Sim! O seu relacionamento, meu caro leitor. Você tem um. Monogâmico, pelo menos na maior parte do tempo.

Pergunto: quantas vezes você deixou pra lá um momento de carinho, ao deparar-se com qualquer pequeno obstáculo, justamente pensando como o AC? Estão ali, coexistindo no mesmo quintal, se hoje não deu, amanhã dará. Poderia argumentar de mil maneiras sobre o inconveniente desta prática. Mas, deixemos esta tarefa para o meu querido amigo, AC.

- E aí, AC? Pegou a tal “galinha de casa”?

- Dancei! Não corri atrás. Outro correu.



Crônica publicada no Jornal Alô Brasília em 15/06/2012, e reeditado do texto homônimo, publicado neste Recanto em 15/04/2009.