A GARÇA LADRA

Quando o ônibus parou no ponto, em frente ao mercado de peixe na ponta da praia, sentada na poltrona do lado esquerdo, eu olhava a paisagem que circunda o comércio de pescado. Pessoas saindo apressadas da balsa que faz a travessia entre Santos e Guarujá, as árvores, a fila de carros e a garça branca que ora pousa no teto do mercado, ora pousa na estaca de madeira fincada na calçada em frente a uma das popularmente chamadas bancas de peixes.

Na minha cabeça a pergunta dançava a valsa da curiosidade: Por quê? Que imã prenderia uma ave marinha num telhado ou numa estaca de madeira em meio àquela confusão de gente falando, carros buzinando e a fumaça dos ônibus? Elas são livres, têm o silêncio e a pureza dos oceanos, comida a vontade, a mata das montanhas que circundam o mar para descansar e até as embarcações que ficam ali ancoradas. Mas aquela não! Ela fica paradinha, parecendo um bibelô de louça branca enfeitando um imaginário toucador. E como se ela pudesse ler meus pensamentos, num descuido do dono da banca, voou e “abocanhou” um peixe, e batendo as asas pousou elegantemente no telhado engolindo o acepipe.

Respondeu a minha pergunta. Para que voar, mergulhar, se molhar toda só para pegar um peixe se eles estão ali disponíveis? É só aguardar a ocasião, e a ocasião faz o ladrão.

Santos, 25/02/07.