A MERITOCRACIA E A SÍNDROME DO "PEQUENO PODER"

Recentemente, numa oportunidade em que eu me consultava com um amigo sobre um enfrentamento pessoal duma situação inusitada que vivi, ele, cuja formação principal, além de ser professor universitário, é a de promover a "ordem social", me dizia que "cientificamente" já se foi o tempo em que o sucesso pessoal se pautava na meritocracia, ou seja , nos postos de trabalho de líderes conquistados pela boa e primorosa formação, pelo mérito genuíno, pela capacidade individual que culmina com o bom desempenho remunerado, posto que na atualidade a sociedade se vê numa epidemia de falta até de formadores de profissionais preparados para se consolidarem como bons profissionais gestores do poder.

Tal assunto virou até tese das ciências humanas!

Assim, não é incomum que pessoas comuns em várias instâncias da vida coletiva se vejam reféns de fatos esdrúxulos que caracterizam a ocorrência da "síndrome do pequeno poder", operando quando menos se espera na logística das nossas complexas vidas.

Essa síndrome não é brincadeira não, ela existe mesmo, está aí para qualquer um de nós apreciá-la com perplexidade e como uma epidemia ela se alastra por todos os lados das nossas inusitadas histórias.

É um fenômeno social cuja explicação é bem complexa, porém seus efeitos são drásticos na dinâmica do nosso dia- a- dia, e uma forma mais simplista de embasá-lo seria pelo fato de que hoje é muito mais fácil se percorrer o curto caminho para se exercer um "pequeno poder doado" para o posto errado do que se percorrer um longo caminho que possibilite o devido preparo para o exercício do "poder conquistado" para o posto certo.

Ocorre, portanto, que a meritocracia social não interessa ao agente do pequeno poder, pelo contrário, ele a vê com certo desdém invejoso, posto que um árduo caminho de conquista de poder por mérito demanda por vontade, por capacidade, por esforço, por tempo, por perseverança, por experiência, tudo isso gerando preguiça e desânimo ao pequeno operador poderoso, ademais, o pequeno poder sempre conquista seu pódio de forma repentina e rápida, ilegítima, super confortável, nunca vislumbrando um fracasso iminente.

A politicagem política hoje é o maior fornecedor e mantenedor dos pequenos poderes...em todos os campos da vida social.

Outrossim, o ser agente do "pequeno poder" é quase sempre sucesso garantido, ainda que seja por pouco tempo, porque intimida pelo desconserto da lógica e da razão, fragiliza e assedia moralmente a capacidade e o direito, amputa as prioridades, embora seja ele quase sempre um marionete estratégico dum grande poder oculto, omisso, despersonalizado, cruel e ambicioso.

Como o agente do pequeno poder geralmente é um ser inseguro, despreparado e recalcado, então, usará de qualquer arma, sempre anti- ética, para continuar a exercer seu pequeno poder com toda a sua grandiosidade impecavelmente poderosa.

Saibam, aprendi que o pequeno poder se nutre e se envaidece dos "baba- ovos" e sem eles sua pequenez grandiosa agoniza...em meio aos seus tantos medos inaparentes.

O pequeno poder é aquele que nos obriga a pedir licença para usarmos da nossa própria casa, e desculpas por acessarmos o cerne do nosso entendimento arrazoado.

Caro leitor, se você que me lê é um ser assediado por algum tipo de pequeno poder...então... prepare-se para, a qualquer momento, lhe pedir licença para poder existir.