Punições escolares

É verdadeiro embate da lógica aplicada buscando atribuições concretas sobre o universo abstrato desinteressado conhecido universalmente como infância. Infância em plena transitoriedade. Criança admite como primeiro parágrafo da sua própria constituição o seguinte: diversionismo constante. Parece que Sun-tzu, ao serviço do Réu Hu lu, do estado de Wu, no final do Século VI a.C. revela que uma das condições do sucesso encontra-se na capacidade humana do diversionismo. É tão incômodo e clássico como ensinar Mesopotâmia antes dos quarenta anos.

Tome-se aqui a palavra “diversionismo” antes do nosso dicionário se apropriar do vocábulo para nutrir esta estranha face da humanidade com o artifício das artimanhas indo até a reles malandragem. Isso não. Menino tem necessidade constante de evitar qualquer contenção da liberdade, nutrindo-se das horas de ouro da diversão. O professor ocorre como o primeiro exterminador dessas brilhantes expressões, muito embora compostas do tipo de egoísmo desinteressado da juventude a toda brida.

É impossível manter a ordem unida sem ferimentos, soluços, mágoas, por mais que se esforce o professor novato em ditar Marco Aurélio, tal imperador da velha Roma, aquele que legou a referência de conduta em estado de perfeição, sem ter sonhado sequer que poderia virar máxima de professor primário: “Corrigir sem melindrar”. Em teoria essa é a essência. Na prática os gritos começam a fazer falta no decidido comando para detê-los. Gritam os que não sabem trovejar, quando ferozmente unidos, os alunos procuram harmonizar com facilidade histrionismo didático com indolência perfeita.

Felizes dessa façanha. Com orgulho da indisciplina que representa alegria, na estranha felicidade que os adultos repelem; conhecedores do mundo preocupante, dramático, cruel, no que tange à falta completa de previdência. Temos como aluno do ensino fundamental aquele que vive em estado de átomo livre num desencadeamento atômico. A educação atua sobre a meninice espetacular para em seguida condenar ao castigo essa infância sem regras definidas na pequena história do seu mundo. O adulto compreende a visão do mais forte sobre aquele que ainda não tem o domínio de si. Depois refletir sobre indisciplinados é reconhecer talento naqueles que fogem a regra.

Imensa responsabilidade do professor que ao menor erro necessitará de incrível probidade ética do grupo docente, profissionais debruçados na ação educadora, vivendo a desinteligência e expostos cotidianamente a ela. Sem contar a “agressão auditiva”, tópico seriíssimo, relegado a desimportância na questão da salubridade profissional. Há espaços demais para condenações de sua atitude profissional em todos os sentidos, pois jamais poderia ser julgado de forma segmentada. Qualquer erro do professor tende a ser emocional, incomensurável, imperdoável na dinâmica das repetições. Professor que é categoria sem uma ordem como a Ordem dos Advogados.

Dizia-nos em tom de graça certo colega entre risos: que o período probatório no inferno era de dois anos muito críticos. A educação fundamental é instância onde se deve prosseguir lapidando reflexos nas criaturinhas desenfreadas e ágeis, podendo este exercício terminar de vez com a carreira do novato, aniquilado por relapsa gravação onde apenas um segmento isolado de coisa, vira documento de escândalo muito apreciado. Tudo concorre contra a educação ao contrário do que se tem propalado. O gravador, a imagem da filmadora no telefone de bolso termina no ciclo hegeliano da consciência triunfante que aniquilou viperinamente outra consciência. Temos a escola “brother”.

... Quando percebi o menino havia pulado a janela. Num átimo conclui que aquela criança vivia em goiabeira, portanto “janela” era algo que apresentava poucos entraves na fuga. O que fazer quando preferem assobiar durante a salivação do professor? Assoviar é dar alma poética ao não pensar. A lógica da travessura é um bom enquadramento lógico num engano profundo. Seguem chilreando como pardais na sinfonia desencontrada de mesas e cadeiras. Encontra-se na arquitetura individualista da sala de aula clássica um dos grandes enganos do desconforto coletivizado, porque obriga os pequenos estudantes ao constante estado de revolta contra esse estreitamento necessário.