Ascensão e queda de uma deusa

Depois de tanto insuflamento do seu ego, algo transformou-se dentro de si. Sem se dar conta, cresceu em formas não muito agradáveis de convivência.

Se antes, um pequeno bichinho de pelúcia, aparentemente introvertido, onde podíamos sentir a necessidade de puxar suas subjetividades para uma melhor interação, agora mostra-se uma tigresa selvagem, de difícil acesso e contato, perigosa e às vezes cruel.

Transformação sutil, que só os que se permitiram a observação diária e interessada, poderiam captar.

Aparentemente, nada se modifica no contexto geral, pois de uma forma ou de outra não existem interdependências de fato, mas tácitas, e assim sendo, fica a impressão de que nada aconteceu, mas as mudanças aconteceram e não sei até que ponto foi bom ou ruim para todos ou para ela. Arrisco-me a dizer que não foi bom pra ninguém.

O que se ganhou? Transformações em um ser que provavelmente teria se lançado por outro caminho devido às escolhas próprias sem as interferências externas acontecidas. Talvez, deixemos claro.

Mas, socialmente falando, é impossível pensar que podemos viver sem absorver as coisas dos outros seres que nos rodeiam e influenciam, queiramos ou não.

Quando a olho, nos dias de hoje, não consigo mais vislumbrar o que via antes. Algo se quebrou. É como um quadro que após muitos anos na parede de nosso quarto, impregnando nossos olhos dia a dia com sua imagem, de repente cai, se quebra, e sem nunca mais ser recolocado ao lugar, simplesmente é esquecido ao fundo de um móvel, ou jogado fora.

E como um pintor que fica triste com o resultado final de sua obra, insatisfeito, simplesmente observo onde foi que errei nas pinceladas, para não haver falhas nas próximas obras.

Mas fica uma pequena lembrança. Boa ou ruim, lembrança. E como tudo na vida, fica o aprendizado. Aproveita-se o que de melhor existiu e deleta-se o que achamos que não mais nos serve. Afinal, ao vermos uma grande pintura, numa visão de profundidade analítica, podemos eliminar num mesmo quadro algumas dimensões e aproveitar outras coisas para nos deleitarmos.

Foi o que aconteceu. O que foi destruido por ela mesma, paradoxalmente dentro de uma construção só minha, ficou gravado como uma parte desse magnífico quadro que criei e pintei com todas as cores do meu arco-íris mental-filosófico-espiritual.

Ela, empedernida em sua forma de demonstrar amor ou carinho, não parece sofrer com isso e mesmo não demonstrando sentimentos, por alguns momentos parece-me feliz assim. Que seja. Tomara.

Mas quem sou para julgar se alguém é feliz ou não? O que importa é que eu sou. Independente das externalidades. Sou intrísincamente feliz e sei que isso é uma dádiva divina. Coisa de poucos, hoje tenho certeza. Agradeço a Êle por isso, sempre.

Meus caminhos sempre trilhei olhando pra frente e para o alto e quando tropeçei sempre soube me equilibrar para não cair. Em algumas poucas quedas, sacudida a poeira, retornei ileso ao meu caminho, o qual venho seguindo até hoje com essa força e coragem que só eu sei que tenho. Digo, eu e Êle.

Apesar do amor, os caminhos são paralelos, infinitos. Como se encontrar?

Vamos em frente.(E para o alto...).

07/12