EXERCÍCIOS CRÔNICOS: ESSE SOL SOBRE A FLOR
Foi assim de surpresa. Olhei nessa manhã o movimento no quintal pela janela do banheiro. Vi uma cena de amor pulsante, um fio de ouro estendia-se sobre o vermelho quente, varava sobre as hastes marrons e debatia-se sobre os verdes das folhas dançantes.
Parei todas as ações. Ferreira Gullar insiste em dizer que toda a sua poesia nasce de seu espanto. E eu, espantado, fiquei ali, um não-poeta diante do espetáculo de luz e cor que irradiava da pequena varanda de minha casa. Uma cena fugidia, rápida, que acompanhou-me no resto do dia. Sei que com muitos acontece de às vezes ouvir um rabicho de música e depois a vibração fica por horas a fio no tímpano incauto. Isso aconteceu comigo, fiquei o resto do dia com aquele rebolado suave da flor, sob a influência suave da música do vento lento.