Respeito à Vida
Quando houve o assassinato de P.C. Farias, uma das figuras de proa do desastroso Governo Collor, depois de algum tempo a polícia resolveu presentear a sociedade com a conclusão de que se tratava a ocorrência de um crime passional. Claro que ninguém acreditou. Há livros que contam direito a história.
O mesmo pode estar acontecendo com esse menino, do Colégio São Bento, que para a tristeza da cidade veio a falecer. E hoje foi enterrado. A autoridade policial à frente do caso descarta a possibilidade de o garoto ter sido vítima de “bullying”. Mas isso não nos impede de que fiquemos na dúvida. Ainda mais se considerarmos, a respeito do perfil do aluno, os traços veiculados pela mídia. Segundo os quais tratava-se de uma criança “muito introvertida e que requeria atenção especial dos professores porque tinha dificuldades para acompanhar os exercícios da turma”. Ou seja, uma criança com grandes chances de ser objeto de chacotas e depreciações por parte de seus colegas. Até porque, de uma forma ou de outra, os alunos do São Bento devem ser estimulados a manter o alto grau de respeitabilidade da escola no cenário dos estabelecimentos de ensino da cidade.
Não interessa ao São Bento a confirmação de que seu agora ex-aluno tenha sido vítima de “bullying”. Porque caberia a indagação: o que fêz (ou deixou de fazer) o colégio para que isso pudesse ser evitado?
Algumas questões realçam o mistério que o caso encerra. Será que o São Bento procura de fato respeitar o momento de dor da família do aluno ou será que é preferível que os familiares, sobretudo a mãe do educando, não se manifestem? Por outro lado, uma veemente manifestação de contrariedade em relação à atuação do colégio não traria algum desconforto para a mãe do aluno, quanto à manutenção do seu emprego de professora da escola?
Uma vida não pode ser descartada dessa forma. Tanto mais quando percebemos que muitas perguntas ficam sem repostas. E o trabalho de elucidação das razões que levaram à esse acidente fatal deve ser concluído na sua totalidade, para que situações desse tipo não se repitam nos milhares de colégios pelo país, de padres ou não, públicos ou privados, etc.
Louve-se, contudo, a preocupação da autoridade policial à frente do caso para a qual “o nosso trabalho é saber se há algo concreto que poderia ter sido feito pela escola para evitar esse resultado”.
É para isso que deve existir a polícia. Não só para proteger o cidadão, mas também a sociedade, evitando que ela seja induzida a erros de interpretação, nas questões que lhe sejam caras e importantes, em função da satisfação de interesses condenáveis, religiosos ou não.
Rio, 08/10/2012