MORAL X MORALISMO

Têm algumas atitudes que me incomodam bastante. Entre elas está a concretização do ditado popular “faça o que digo e não o que faço”. O povo tem uma facilidade muito grande de embelezar o feio. Na realidade o significado desse ditado refere-se à hipocrisia humana. Jesus Cristo ao dirigir-se a um determinado grupo religioso, o chamou de sepulcro caiado que por fora se mostra belo, mas por dentro está cheio de trapos de imundícia. Em outras palavras: hipócritas.

Embora a palavra hipócrita soe num tom muito agressivo aos ouvidos de nossa alma, o ditado popular citado, para muitos não soa assim. É muito mais fácil dizer a alguém, quando questionado por nossas atitudes, “faça o que digo e não o que faço”, do que dizer em tom bem audível “eu sou um hipócrita”.

Há inúmeros casos concretos nesse sentido, por exemplo, um pneumologista que passa o dia todo aconselhando aos seus clientes a não fumarem e ao final de cada consulta acende o seu cigarro e delicia-se tragando uma quantidade exorbitante de venenos; um pai que briga, xinga, castiga o filho quando descobre que ele o enganou, mas depois pede ao filho que diga à pessoa que à porta está: “O papai não está. Acabou de sair. Você pode deixar o seu recado”. Nossa, como isso é feio!

Tenho presenciado algumas situações, que deveras me tem deixado angustiado, indignado... Não irei citar nem se quer uma dessas situações, por questão, não de moral, mas sim de ética! E por falar em moral, tem gente confundindo moral com moralismo, achando ser dois vocábulos sinônimos. Mas há uma diferença enorme, entre um e outro.

A nossa língua portuguesa, em alguns casos, faz uso do sufixo “ismo” para dar sentido pejorativo a determinada conduta exacerbada ou mesmo a um vício, por exemplo, narcotismo, alcoolismo, tabagismo etc. Pois bem! Grosso modo, moralismo é uma conduta exacerbada ou viciada da moral. Digo viciada, porque uma conduta pode ser virtuosa ou viciada. A virtude prima pelo bem, pelo saudável; o vício prima pelo danoso, pelo mal.

É muito comum, digo, no dia a dia, lidar com pessoas moralistas, no entanto sem moral. Pessoas que cobram determinada conduta exemplar dos que as cercam, contudo agem de maneira diversa daquela cobrada por elas. Pensemos em uma situação hipotética: um professor está usando a moral como maneira de cercear condutas ilícitas de seus alunos ou está sendo moralista quando no exercício de sua função, pede aos seus alunos, de maneira enfática e contundente, que sejam pontuais na entrega das suas atividades e que no momento da avaliação, sejam honestos e não usem de nenhuma atitude que requeira, ao professor, que se tome uma medida drástica e como consequência uma punição a algum aluno ou a turma?

Penso que essa resposta só pode ser respondida se trocarmos a posição ocupada pelo protagonista de nossa situação hipotética citada acima. Então vamos à nossa árdua tarefa! Peguemos o nosso querido professor e o levemos a uma sala de aula, só que desta vez ele não será mais o professor. Ele será agora o aluno. Pensemos que ele resolveu fazer outra graduação. As suas atitudes como aluno são totalmente antitéticas, dicotômicas, contrárias as que ele prega, cobra, solicita quando professor. Ele não é pontual na entrega de suas atividades acadêmica. Na hora da realização de uma prova ou exame avaliativo, lança mão de meios escusos (a tão popular “cola”, na linguagem dos internautas Ctrl C + Ctrl V).

Agora sim! Já podemos responder a nossa pergunta. O nosso protagonista não passa de um moralista sem moral (não quero nem entrar no âmbito da questão ética). Assim também ocorre em outras situações, em outros âmbitos da vida social. Um líder religioso que pratica o pedofilismo, a barganha espiritual, a usurpação. Um marido que exige a fidelidade de sua esposa ou uma esposa que exige a fidelidade de seu esposo, mas é infiel à sua relação matrimonial. Um juiz que julga com parcialidade. Um árbitro que arbitra sem justiça, enfim! Tantas e tantas outras situações poderiam ser exemplificadas como caso concreto de moralistas sem moral. “Sepulcro caiado”.

Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 08/10/2012
Reeditado em 23/12/2012
Código do texto: T3921827
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