O carro corre rápido desejando cumprir sua missão: Atravessar toda a Paraíba chegando quase a lamber o Ceará. Com isso conseguimos entender toda a grandiosidade da natureza. Paisagens se sucedem, climas mudam numa riqueza de variedades surpeendentes.
Iniciamos nossa viagem no litoral. Restos da Mata Atântica resistem como a nos lembrar que outrora alí existia uma grande floresta da qual sobraram apenas algumas nesgas de àrvores tristes por estarem sozinhas. Onde o resto? O homem engoliu e fez dela uma extensa plantação de cana para as usinas. Muita cana para poucas bocas... Poucas resistiram à fome dos homens insensatos. Um ou outro sagüim, uns poucos sabiás e jaçanãs ainda se arriscam a tentar parecer que aquela era nossa Mata Atlântica. O que deveria ser ferrenhamente preservado, engolido. A visão me remete a um passado quando era possível ver orquídeas roxas bordando os galhos verdes das àrvores. Cajueiros e mangabeiras nativos seguiram o caminho sombrio da morte das àrvores, poucos resistiram no acêro da estrada. O olhar é de tristeza e revolta...
Continuamos rumo ao sertão. Aos poucos tudo muda, o clima, a paisagem. Como guardiã dessa preciosidade que é o sertão, lá está a serra de Santa Luzia com suas curvas largateando e descortinando vistas, uma após outra numa sequencia de belezas. São serras, são montanhas, muitas cobertas de cactos e bromélias coloridas que se esparramam nas rochas brancas e marrons. Alí um fio de agua escorrega por entre as pedras de uma altura enorme, indo se precipitar no vão da serra.
Descemos a serra, estamos em pleno sertão. Um sertão de terra fértil , pouca água. De uma beleza ímpar. A vegetação escurece na seca, mas permanece viva à espera das primeiras chuvas de janeiro para enverdecer. Existe porém, uma àrvore atrevida que não obedece a ordem da natureza de hibernar. É o forte e belo Juazeiro que tem a função de lembrar as outras espécies como é bonito o verde. E lá estão eles no meio do cinza . Um pouco adiante somos recebidos pelas palmeiras mais belas do mundo. As carnaubeiras. Qualquer declive na topografia e lá estão elas a balançar suas folhas e a me encantar. Elas são o sinal que estamos já, no alto sertão. Pássaros em profusão, papagaios, periquitos fazem a trilha sonora O mormaço do dia que esquenta até as almas tem um alívio ao cair da tarde quando sopra uma brisa vinda do Ceará. É o Aracatí aliviando o calor com hora para chegar e partir. Logo depois, as cadeiras postas nas calçadas são recolhidas. No outro dia, tudo se repete.
Sempre que vou ao sertão tenho a nítida impressão que o ceu está mais baixo, mais limpo, mais presente. Tudo no sertão é mais forte. Do homem à natureza. Da vegetaçaõ à vida. Daí se explica o espetáculo do por do sol. Emocionante. O sol sanguinolento mergulhando nas montanhas deixa todos extasiados. O vermelho persiste um tempo, o suficiente para se querer eternizar o instante e guardá-lo no lado esquerdo do peito.