O ORNITÓLOGO

Existiu uma época em que eu trabalhei como porteiro num parque municipal na cidade onde moro e todos os domingos aparecia por lá um rapaz trajando calças jeans, camiseta branca, um “surrado” tênis e uma máquina fotográfica profissional e ao entrar no parque pedia permissão para poder fotografar os pássaros existentes no local.

A primeira vez em que ele apareceu no parque o sol ainda estava preguiçosamente começando a surgir no horizonte e a tímida lua negava-se a abandonar o céu entre o chilrear dos pássaros que misturava com os barulhos das folhas das árvores que o vento fraco lançava sobre o meu escritório ao ar livre.

Consultei a minha encarregada sobre a permanência daquele rapaz no parque e expliquei a ela que o mesmo era um ornitólogo e vinha ao parque somente para fotografar espécies raras de pássaros e ela pediu para que eu acompanhasse a permanência do ornitólogo no parque.

Recebi a ordem com muito carinho e alegria, pois seria a primeira vez que teria a oportunidade de acompanhar um ornitólogo e aquele momento me pareceu muito apropriado para saber um pouco mais sobre pássaros e sobre a atividade daquele rapaz que a princípio mostrou-se um pouco acanhado com a minha presença ao lado dele e deu-me algumas instruções que como eu deveria comportar-me diante das situações que surgiriam a partir daquele momento.

Seguia-o a distância e ficava atônito com tanta paciência daquele rapaz que ao ver algum pássaro raro entre as árvores, colocava o dedo indicador sobre os lábios e pedia silêncio absoluto para que o pássaro pudesse pousar delicadamente em algum galho da árvore e ele imediatamente retirava a sua potente máquina fotográfica profissional mirava para o pássaro e lá ficava eternos minutos para capturar o melhor ângulo, a melhor paisagem e eu ficava observando ao longe e ficava encantado quando escutava o barulho da máquina fotográfica sendo acionada e torcendo para que o pássaro tivesse sido fotografado e a foto tivesse uma ótima definição.

Após fotografar o pássaro observava-o levantar-se vagarosamente e caminhar lentamente entre as árvores mexendo na máquina fotográfica e meu coração ficava muito feliz e aliviado quando observava um sorriso de felicidade no rosto do ornitólogo, pois tinha certeza que a foto tinha sido um êxito e ele imediatamente mostrava a foto através de um pequeno visor como se fosse um troféu, mexia aqui, mexia acolá na máquina e novamente ficava olhando para o topo das árvores para capturar novos pássaros que faziam uma verdadeira festa naquele lindo domingo ensolarado.

Lá pelas nove horas da manhã, ele guardava a máquina carinhosamente colocando-a na mochila, despedia-se educadamente e retirava-se silenciosamente do parque desejando-me um bom dia e até a próxima semana.

Então eu voltava novamente para a guarita e ficava imaginando que qualquer dia ainda iria escrever uma crônica sobre o meu amigo ornitólogo que tanto amava e ainda ama os pássaros, assim como São Francisco de Assis.

LUCASI
Enviado por LUCASI em 07/10/2012
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