A casa de meu pai

Meus tempos de menino - História verídica

A casa de meu pai

Não sei quantos anos eu tinha ao certo, talvez sete, me lembro da casa velha que ficava quase no meio da chácara, da porta da sala olhava para a rua, era um caminho de chão batido que descia, aos meus olhos parecia perder de vista, dos lados do caminho sempre havia uma plantação, bem me lembro de um milharal, uma plantação de milho com pés altos como bambus, mais parecia uma floresta.
Eu gostava daquela casa, havia patos, galinhas, marrecos, gansos todos viviam soltos perambulando pela chácara durante o dia. Havia muitas árvores como a uvaieira, a pitangueira, o araçazeiro amarelo, pés de cabeluda, as pinheiras conhecidas como ateiras e as enormes árvores como abacateiros, laranjeiras, pés de jabuticabas e pés de mangas.
Vez ou outra eu e meus irmãos encontrávamos um ninho cheio de ovos de galinha ou pata, por vezes com pintinhos prontos para nascer.
Como era bom andar com meus irmãos nos pomares pegando debaixo das arvores as frutas que caiam, muitas vezes percebíamos ao longe um cacho de bananas maduras, amarelas como ouro, era irresistível não comer.

Da porteira da chácara passando pela casa havia um caminho longo nas sombras dos abacateiros, que chegava até as divisas no fundo, minha mãe sempre varria o caminho com vassouras feitas de galhos verdes. Na Estação das águas, assim que meu pai dizia sobre a época das chuvas, nascia uma grande lagoa no meio, era a Várzea, ali chegavam e habitavam durante as chuvas os paturis e outras aves.

Nosso trabalho era árduo, meu pai mandava que todos trabalhassem na lavoura, como ele dizia, debaixo de sol e muitas vezes de chuva, capinando, plantando sementes e mudas, tratando dos animais, das aves, colhendo frutas, e tudo que era necessário, sempre tinha o que fazer aquilo mais parecia um sítio ou fazenda, seu tamanho era de sete campos de futebol.

Frequentar as aulas no grupo escolar era obrigatório, permitido faltar somente quando doente ou trabalhando na rua, fazendo compras ou vendendo nossos produtos.

Meu pai era mão de ferro, severo, não permitia aos filhos menores de idade sair sem permissão.

Um dia meu irmão mais velho me disse; Vamos lá, você vai ver a casa nova.
Não tinha ideia do que ele estava falando e o que era a casa nova.
No outro lado da chácara uma casa nova construída, grande, muito maior que a casa velha, o teto forrado com tábuas de madeira, o piso tijolos queimados, as paredes de alvenaria com pintura verde, na cozinha uma pequena pia com torneira e um enorme fogão à lenha com forno de ferro. Todos os cômodos com instalação e luz elétrica.
A casa tinha na frente uma varanda para adentrar a sala, no lado direito dois quartos grandes, noutro lado um banheiro e a cozinha, saindo da cozinha outra varanda.
Na casa nova tinha outra porteira, entrando para terreiro da casa.
Lembro-me agora, mas não sei quando foi construído um grande galpão, costumávamos chamar de Rancho onde era guardada a carroça, as charretes, as selas, os arreios e todos os bens, como também o que era produzido nas lavouras. Lembro-me agora, mas não sei quando foi feito pela minha mãe, um grande e belo jardim em frente à casa com roseiras, jasmins, cravos e margaridas.

Da infância atravessamos pela vida, cada um dos irmãos foram construir a sua própria história.

Na década dos anos 60 tivemos alguns eventos de fatalidades e infortúnios, um deles o falecimento de nosso pai, nas vésperas do natal de 1965.

Meu desejo era dar continuidade a saga da família, mas os tempos mudaram e a casa de meu pai entrou em decadência.

Poucos anos se passaram para a construção de um novo bairro no local.
NOSLEN OLEBAR
Enviado por NOSLEN OLEBAR em 06/10/2012
Reeditado em 31/08/2015
Código do texto: T3919507
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