UMA TRISTE CANÇÃO
Ysolda Cabral
 
 
 
Manhã acanhada já vai alta no Céu pouco anil. Nenhum pássaro escuto e as garças dos arrecifes misteriosamente sumiram. O dia parece triste e sem poesia. São poucas as crianças que encontro na praia, e, as que encontro são crianças chatas e choramingas. Casais de namorados não vejo há séculos. E, as poucas garotas que encontro estão de olheiras da noite mal dormida, passadas nas baladas da vida, onde ninguém conhece ninguém de verdade. Onde a conquista não é romântica, nem pura e nem bonita. Ah, que dia mais triste quando num coração de uma pretensa poetisa a poesia desaparece! Tudo fica feio, triste, sem vida... Melhor ir dormir e esperar outro dia.
 
Mais amanhã é domingo e domingo sempre me deixa triste, sem graça, sem vontade de fazer nada. É um dia que sinto um aperto no peito, uma saudade inexplicável de dias de domingo que nunca vivi. Nem as lembranças da infância quando mamãe fazia desse dia um dia pra lá de especial, me anima. Naqueles dias também me sentia assim e ninguém entendia a razão. Mamãe me dizia pra cantar para ela, enquanto me acompanhava ao bandolim uma canção - não sei a autoria -  que dizia assim: ‘’ Um passarinho me ensinou/ uma canção feliz / e quando solitário estou / mais triste do que triste sou / recordo que ele me ensinou / uma canção que diz: // eu passo a vida cantando / hi li li, hi li li, hi lo / por isso sempre contente estou / O que passou, passou/ o mundo gira depressa e nessas voltas eu vou / cantando a canção tão feliz que diz /Hi lili, hi li li, hi lo / Por isso é que sempre contente estou/ Hi li li, hi li li, hi lo...
 
Quando terminávamos a audição, para a platéia de nós duas, dávamos risadas de lágrimas...
 
Saudade de mamãe...