A MORTE É A APENAS O ULTIMO SUSPIRO
Fico imaginando o impacto de tudo sobre a morte de uma pessoa hoje, principalmente quando o dia fatal chega. Aquele último suspiro.Tudo que sabemos, e que podemos imaginar, ocorre exclusivamente pela empatia, mas esse é um exercício que ninguém a rigor quer fazer. Podemos alugar argumentos de pregadores que falam em nome de supostos deuses, ou de uma vida pós-morte que nos levaria a um aperfeiçoamento em outra dimensão. Sonhos e delírios que levam a humanidade a crendices ou para um exercício de um auto-flagelo dispensável do ponto de vista racional.
Somos sim, completamente ignorantes nesse aspecto e qualquer pensamento a respeito de vida e morte, exceto aqueles formalizados pela ciência, é mera fantasia e puro romantismo. Alguns se masturbam mentalmente, principalmente aqueles com a consciência pesada temerosos por um julgamento divino, geralmente alardeado por livros chamados sagrados.
Acho que os médicos chegam perto pois são ou seriam com certeza, as pessoas que convivem com o sofrimento da outra no cotidiano, acompanham suas doenças e quando podem prolongam suas vidas, passam a incorporar e fazer ensaios sobre como poderia ser, ou como será o dia fatal. Na verdade o processo da morte é lento e começa com algumas depreciações que ganhamos e isso depende de nosso comportamento, de nossa índole e até mesmo de nossa constituição física (genética).
Os homossexuais sofreram nas décadas passadas com esse processo degenerativo que os médicos chamam de AIDS e as prostitutas são naturalmente portadoras também desse vírus da morte (se é que podemos chamar assim), pois são naturalmente pervertidas do ponto de vista sexual pela promiscuidade com que atuam. O câncer que nos atinge em cheio e nos deixa reféns da crueldade da natureza é e tem sido um dos maiores vilões. Menos mal hoje, que sabemos distinguir um morfético de um cancerígeno e os preconceitos diminuem nessa área do comportamento humano.
Pensar, refletir sobre isso, é como sair da luz e entrar numa outra dimensão. Há os que defendem a eutanásia (acredita-se ser uma morte menos sofrida, pois é planejada). Os doentes terminais, geralmente com idade avançada, não morrem disso ou daquilo especificamente como publica a imprensa. Eles morrem pela falência múltipla dos órgãos. Surge uma necessidade premente, ou a pilha acaba, e na escuridão completa e no silêncio intrigante, você se desliga (acho eu), fica ausente por alguns momentos e inicia a busca de uma solução ou de uma análise do mundo, da existência, do comportamento humano que pende ora para o sadismo, ora para o masoquismo. Mas, a morte chega inexorável e apaga essa reflexão. Chegou para José Alencar, chegou pra Dercy Gonçalves, chegou pra Hebe e enfim somos todos vulneráveis, famosos ou não.
Você pensa na crise do ego, do super ego, trabalha o inconsciente e a fita do filme de sua própria vida começa a rodar. O encantamento da sala de espetáculos, a crise do peso na consciência por pequenos ou grandes delitos, deriva para o social, o coletivo. O passado vem à tona e se mistura com o futuro sombrio e se os impasses afloram, a luz no fim do túnel desaparece.
Você pensa em si próprio, pensa no sistema cruel, você pensa na crise da igreja que permite a vulgarização, banalização e comercialização cada vez mais crescente da fé.
Se você é famoso, pode perceber claramente o cerco da imprensa lhe convidando para bate papos, tipo programa do JÔ, Marília Gabriela e até a Xuxa uma reserva zero de intelectualidade faz o seu acervo Global orientado de entrevistas. Ana Maria Braga, faz o feijão com arroz, fica indignada, mas nada de entrevistas com políticos e consegue manter essa linha neutra. A Hebe Camargo, que infelizmente perdemos ontem, carrega pontos negativos em sua extensa ficha de apresentadora em dar espaço a políticos corruptos como Maluf e outros (fica a ressalva de que talvez o tenha feito, porque as clausulas contratuais assim o exigisse).
Enfim...
Você quer ter fé em valores morais, em virtudes e acaba tendo fé no inferno, no céu, naquilo que não pode ver, não pode tocar. Você prefere assim, é mais cômodo, é mais misterioso, menos materialista e mais prático, matar de uma só paulada todas as suas dúvidas, com a tal fé inabalável, onde quatro letras resumem o poder inquestionável de um “arquiteto”.
Você olha, mas não vê, você escuta vozes mas não entende o que estão dizendo e assim se explica esse mergulho no nada, não em busca de um agradecimento, de um pedido, mas em busca da coerência, da lógica.
Em busca de uma coexistência pacifica, em busca do reencontro com os princípios éticos. Você ouve o mundo inteiro gritar e as vozes dizem, - poderia ter sido melhor. Ou poderia e deveria ter sido o melhor. Que merda, eu não tenho que ser o melhor, o maior, eu tenho que ser e fazer aquilo que gosto que desejo e não gosto de receber ordens. Jamais aceitarei que alguém diga pra mim que eu não devo gostar dessa ou daquela pessoa. Ou que devo aceitar isso ou aquilo. Ou que devo ajoelhar-me num banco de madeira e comer um pedaço de farinha de trigo para purificar minh´alma, ou acreditar no olho de Tandera.
Portanto, quero morrer em paz.
Você pensa nos amigos que perdeu e nem sabe por que. Você se vê na porta de entrada da terceira idade e fica ranzinza, implicante, mentiroso e quer bater em todo mundo e quer por que quer o mundo a seus pés. E você então não vê que os mais jovens chegam com inteligência, com astúcia e com o apetite voraz. Eles querem o seu lugar, eles sabem que você mais cedo ou mais tarde vai embora. Você não sabe se está pensando e falando de você mesmo, porque os críticos implacáveis fazem você se perder, fazem você acreditar que tudo que acontece é por sua culpa. Os mais jovens não querem aprender com você, acham que podem tudo sozinhos.
Nesse ponto, muitos deles começam a morrer mais cedo, mergulhando no mundo das drogas, onde o imperativo é a adrenalina, o viver agora, somente o presente sem pensar no futuro que é muito maior do que o presente e sugere responsabilidades de cunho social. Poucos sabem que vivemos numa sociedade e que somos um peça da engrenagem e a cobrança chega de forma implacável e torna-se cruel, quando não começa lá atrás, pela atitude dos pais.
Se pararmos para pensar, tem uma profissão em que essas coisas ficam mais evidentes, mais expostas e machucam com maior freqüência, a de jogador de futebol (carreira curta), e ele vive essa angústia do medo de perder sua posição e se torna o animal que normalmente é jogando e amarga no banco de reservas, o seu “autoflagelo”.
E então, depois de alguns anos, bate a agonia da morte prematura de um sonho em forma de bola de futebol. É preciso muito preparo psicológico para enfrentar essa “morte”. Um Ginasta, um lutador de boxe, um artista de cinema, de novela morre de forma cruel, prematuramente.
Sair atropelando todo mundo e gritar como o bandido Jefferson na política, mentir como o Presidente Bush e decepcionar que nem Obama e fazer terrorismo que nem os pastores das igrejas evangélicas que pregam o ódio, o individualismo, o egoísmo em nome de um Deus, alimenta o sonho daqueles que fingem levar a vida numa boa.
Mas o pesadelo prossegue e é como estar num sono profundo e poder dirigir as cenas, definir o que quer que aconteça. E no limiar da noite, nas profundezas das trevas, você se levanta sem sono, refletindo e anotando frases e pensamentos que são as suas verdades, os seus sonhos, as suas frustrações, soando em busca do inédito. E o inédito foi exatamente encontrar e reviver em lembranças esse mundo cão, diante dos olhos estarrecidos de crianças famintas e sem escola.
São reflexões que transbordam, que traduzem estados de angústia ou até mesmo de plena ou falsa felicidade. No dia seguinte, você pode ler e jogar fora e ficar rindo de sua pobre visão, do que é ser triste e estar triste ou, feliz e estar feliz, Fazer amigos e destruí-los, entendem?. A vida portanto, não é tão simples quando se fala de seres humanos. Somos todos canibais em toda extensão da palavra. Existem amigos de verdade, mas são muito poucos e assim jogando conversa fora, resolvi escrever esse texto, por causa do olhar de um amigo meu aqui em Goiânia, que definitivamente não acredita em amizades e aposta em trocas. A vida pra ele é uma grande loja de conveniências. Isto é um raciocínio cruel, mas pode ser verdadeiro, porque todo esforço é premiado com elogios e apoio moral, quando rende dinheiro. No momento que, como se diz, a vaca vai pro brejo, todos querem chutar o defunto e mostrar pro mundo inteiro seus defeitos e sua incompetência.
É que eu não me conformo com aquela premissa do "penso, logo existo". Mas...meu entendimento é muito escasso e não me conformo com uma etiqueta que colocaram no meu pescoço e que mostra uma data de validade. Mostra praticamente o dia marcado para morrer, sem falar nos imprevistos, nos acidentes e no insucesso, cuja possibilidade real nos apavora. Quando o insucesso bate à sua porta, você tem que ser muito forte para não gastar seu pobre dinheirinho com a retórica das centenas de livros de auto-ajuda e de conversa “afiada”. As livrarias de hoje, vivem disso e os consultórios de psicólogos estão cada vez mais lotados e haja salas de terapia remunerada. Quanto aos pobres e pão-duros, restam mesmo os bancos de igreja. Os ricos de bens materiais, eu não sei o que fazem lá.
Porque afinal, a pergunta que não quer calar, é exatamente essa: Será que vale a pena viver, com pessoas espinhosas e que estão sempre querendo esvaziar a sala de espetáculos da vida? Eu conheço gente que, quando morrer, vai ter em seu velório, apenas aqueles que herdarão seus bens materiais. Você pode ser rico em bens materiais, nada contra e ter um bom coração, amar as pessoas que estão ao seu redor.
Viver e amar não são uma brincadeira de mau gosto é quase que um ímpeto para pessoas normais. Morrer é uma merda. Não sei por que, hoje chegou o dia em que tive coragem para postar essa bobagem aqui, do alto dos meus 67 anos e que tem como âncora, como base, esse meu espaço, essa minha confissão improvisada, nessa comunidade.
O que significa afinal, viver intensamente, realizar sonhos, acumular bens, colecionar sonhos vividos e mais na frente, sem mais nem menos perceber que a contagem era regressiva e saber-se próximo do zero. E ter certeza que algumas pessoas, deveriam e poderiam estar do seu lado, poderiam continuar sendo amigos? Será que vale a pena gozar do respeito dos “amigos” no mundo dos negócios e estar sempre com a necessidade premente da maldita reciclagem?
Talvez essa minha reação e coragem de escrever em público e não num diário secreto e particular, seja para mostrar que esse tipo de coisa a gente tem que encarar com coragem e não ficar revoltado, batendo a cabeça na parede desesperado, como muita gente fazendo inimigos gratuitamente, agredindo a todos. Na verdade o correto é a busca da compreensão, de palavras de incentivo, de carinho com o próximo, enfim viver, ser feliz, sem querer transformar o outro naquilo que você é, ou pensa que seja o correto.
E de preferência, com sinceridade e legitimidade, usando da liberdade, mas com real identidade e competência no jogo das palavras. Relevar a ignorância do outro sem ridicularizá-lo, sem tentar humilhá-lo, sem tentar diminuí-lo.
Portanto, morrer é mesmo uma merda, sob todos os aspectos e com todos os sentidos figurados possíveis. E por falar em morrer, você já comprou seu pequeno lote, no “jardim das saudades”, vulgarmente chamado cemitério?
E já pagou antecipadamente pelas flores sem “espinhos” ? Durante muito tempo, você acompanhou seus amigos e parentes e lá depositou muitas flores e quando o seu dia chegar, que pode ser hoje, ou a partir de hoje, a qualquer momento, seus amigos, e/ou seus inimigos, acompanharão você para o irreversível “The last Day”. Muitos chorarão de verdade e outros dissimularão o alívio e a alegria por não precisarem mais tolerar a sua presença. Ou você é daqueles defuntos fedorentos e nojentos que já morreu há muito tempo e só falta deitar? (rsss).
De qualquer forma, um brinde especial aos meus amigos de verdade e longa vida aos meus inimigos para que possam continuar me desejando tudo aquilo que não quero pra ninguém, claro de preferência comigo por perto. – rssss
De esquerda ou de direita, somos todos mortais