COMO É FAZER 62 ANOS

COMO É FAZER 62 ANOS

No ano passado, eu vi como há muitos anos atrás o navio negro com a sua chaminé jogando fumaça nos céus, com seu apito estridente, rasgando o canal estreito que dá acesso ao cais da Praia Grande . É um espetáculo único que nunca mais se repetirá que não se encontra em fotos, filmagens, apenas gravado na mente de pessoas assim como eu que faz parte da historia dessa Cidade que fez 400 anos de muitas lendas e histórias as quais algumas ainda sei contar. Mas faltam quatro dias para que eu mude de idade. Dessa feita farei 62 anos e na minha memoria de menino de 12 anos ainda lembro as comemorações dos 350 anos São Luís, quando eu ainda vivia no mundo dos sonhos e acreditava que a vida seria eternamente assim, que pudéssemos colorir a tela da existência nas cores preferidas e até traçar as estradas por onde haveríamos de caminhar . Hoje, porém, sei que todos somos viajantes, viajamos para o passado reconstruindo experiências vividas, para o futuro imaginando acontecimentos por vir e viajamos quase sempre rumo aos problemas existenciais...

Hoje eu não vejo mais o navio negro passando pela beira-mar, sua chaminé jogando fumaça e nem ouço o seu apito, é que nunca se resgata a realidade das experiências do passado, como também não se vive de lembranças quando ainda se tem esperança, e a escola da vida me ensinou que ter não é ser. Sei que isso contrapõem-se aos nossos conceitos, estereótipos e paradigmas, mas a singeleza de um cotidiano vazio, alicerça a vaga ideia que devemos conquistar cada vez mais em bens materiais em contraponto com a cena real que mostra com clarividência que a temporalidade da vida humana é curta. Infelizmente encenamos o espetáculo da existência em poucos anos. Mas, aprendemos que a maioria das pessoas não investe em sabedoria e a velhice não é sinal de maturidade, apenas uma etapa a mais pela quais alguns passam... Seria necessário que imergíssemos em um portal aberto do tempo e, que fizéssemos a viagem dos nossos sonhos, aqueles acalentados carinhosamente há décadas e, nessa viagem intermitente caíssemos exatamente no lago dos desejos, assim como nos contos de fada e que nunca mais voltássemos a ser jovens, mas que pudéssemos viver em paz, somente nós da melhor idade e, que cada um encontrasse a sua alma gêmea e o amor florescesse a cada minuto que ainda restasse de nossas vidas, e assim poderíamos simplesmente dizer que vivemos no paraíso.

Um sonho impossível que só um homem que completa 62 anos de idade pode imaginar. Desculpem-me, mas é o que eu sinto.