O dia em que eu quase morri em um táxi em Goiânia

Este texto conta a história do dia em que eu quase morri em um táxi em Goiânia.

Nunca vou me esquecer de um dos dias em que eu mais tive medo na minha vida. Estava na rodoviária vendo um filme (Sim, aqui em Goiânia tem um cinema na rodoviária). Já era tarde da noite e tinha ido assistir uma das sessões de estréia do filme do Harry Potter. Ainda estava anestesiada com as imagens do filme e decidi ir de táxi. Não sou a Angélica, mas às vezes eu vou de táxi.

A rodoviária não é tão distante da minha casa, mas a minha impressão era que esta era a forma mais segura de chegar até a minha saudosa cama. Estava certa quanto a chegar rápido em casa, mas não quanto à forma mais segura. Entrei no táxi e disse o destino. Assim, que o táxi começou a andar meu estômago embrulhou. O motorista dirigia muito mal. Ele apostava uma corrida imaginária e conseguiu avançar todos os sinais de trânsito até a minha casa.

A minha suspeita era que ele estivesse bêbado, mas não consegui farejar nenhum cheiro de bebida. Talvez estivesse usando alguma droga. No fim, achei melhor concluir que ele estava apenas com muito sono. Quem sabe ele estivesse trabalhando 32 horas seguidas?

A minha vontade era de continuar a viagem a pé, mas a vizinhança noturna do centro da cidade não é das mais hospitaleiras. Então, eu continuei no táxi com a certeza de que eu iria morrer. O trajeto foi o mais rápido e o mais devagar de toda a minha vida. Sei que esta frase parece incoerente, mas não é.

Este trajeto foi rápido por conta da velocidade do carro e lento porque a viagem pareceu uma eternidade. As ruas noturnas e aparentemente desertas do centro da cidade não passavam de borrões vistos pela janela do carro. Eu suava calada no banco de trás do carro vendo as cenas importantes da minha vida diante dos meus olhos. Minha mente se concentrava nas partes que eu nunca iria viver. Naquele momento eu estava certa que não mais veria meu filho, que não encontraria meus amigos, que nunca mais escreveria, ou tomaria um sorvete. Em algum momento do percurso eu me perguntei: Porque aquele idiota agiu daquela forma?

Os doze reais da corrida, não seria um preço justo pelas nossas vidas. O que levava aquele homem a romper os limites do bom senso e da sanidade. Imaginei que em algum momento o corpo dele lhe avisou que era hora de parar, mas ele continuou motivado pelas contas. Imaginei o esforço que ele estava fazendo ali para se manter acordado e dirigindo. Não era de fato um esforço, era um suicídio. Ele não precisava se esforçar para fazer uma corrida de doze reais, ele podia ir para casa e dormir. Ele poderia não se esforçar.

Toda vez que eu vejo alguém sendo estúpido consigo mesmo, eu me lembro daquele motorista. Vejo isso quase todo dia. Pessoas suportando casamentos falidos, empregos odiosos. Toda vez que eu sou estúpida comigo mesmo, me lembro daquele motorista. Aquele taxista foi uma mensagem que Deus me mandou dizendo: Seja estúpida, se quiser morrer mais rápido. O que eu chamo de estupidez os psicólogos chamam de sabotagem.

Naquele dia, conclui que somos nós mesmos que atiramos no nosso pé. Falamos que podemos assumir um compromisso que de fato não podemos. Eu suspeito que seja para provar algo para alguém. Até chegar o dia em que descobriremos que não precisamos provar nada para ninguém. Como bem disse uma vez Renato Russo.

A moral desta história pode ser resumida por uma frase batida: Às vezes na vida a solução é jeito e não força

Débora Ramos
Enviado por Débora Ramos em 05/10/2012
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