BARROCAS

BARROCAS

Nos tempos de minha infância, denominávamos barroca, pequenos vales por onde passavam riachos, córregos ou diminutos cursos d’água.

Nesses locais passava eu, nem todos os dias, algumas horas de lazer, juntamente com a minha turma de amigos. Entre eles, o Nini, apelido do Alfredo Ulmer, o Toninho, o Vlade, o Waldemar, os meus primos Wilton e Newton, e mais alguns outros. Chamávamos as barrocas pela sua situação: a Primeira, no fim da Rua Coronel Ortiz, a Segunda, no fim da Rua dos Apeninos, e a Terceira, ao lado da Santa Casa, atual Hospital Municipal, na hoje denominada Rua Nilo. Íamos, alternadamente, nas duas primeiras citadas. Na terceira não, pois seu caminho era encoberto por árvores frondosas, por bambuzais que o tornava escuro, algo lúgubre, causando-nos medo de atravessá-lo. A da Rua Apeninos, por ser um tanto quanto mais longe, era visitada esporadicamente. Porém, tinha um atrativo: a chácara do italiano Dante Gerodetti, com um belo pomar, de onde pegávamos, de modo sorrateiro, para não dizer o termo exato, as frutas para a hora do lanche. Então, a mais concorrida era a primeira. O córrego vinha da Vila Assunção, passando atrás do atual Hospital Cristóvão da Gama, que, naquela época, não existia. Nem sei nome dele, se é que tinha. Suas águas eram límpidas, pegávamos guarus, e nele tomávamos banho. Santo André não possuía nem sequer uma piscina, exceto a do Aramaçan, nas águas do lago. Não havia qualquer perigo, o córrego era bem raso.

Nossa alegria não durou muito, pois, ali, no final dos anos 40, instalou-se a fábrica de óleo Compol, no término da Rua Alberto Benedetti. Essa indústria veio causar a poluição (já naquela época!) das águas do córrego, dando-lhe um aspecto oleoso, e um odor desagradável.

De outro lado, porém, a fábrica veio criar um novo divertimento, principalmente para mim, que residia na Rua Guilherme Marconi. O óleo tinha como matéria prima uma castanha, que ignoro o nome. Vinha transportada em sacos através de caminhões abertos. Como a Rua Guilherme Marconi era subida, sem qualquer tipo de pavimento, os veículos tinham dificuldade para superar o trajeto, fazendo-o de forma bem lenta. Aí aproveitávamos para furar os sacos, e subtrair certa quantidade do vegetal. Era comestível.

Há muito tempo que a fábrica de óleo deixou de existir. Suas instalações são ocupadas, hoje, por um “campus” da Universidade Anhanguera.

Ah, lembrei! Na volta para casa, após as brincadeiras na barroca, ainda havia tempo para uma pelada de futebol, no campinho existente na esquina da Rua Coronel Ortiz, com a Avenida João Ramalho. Pertinho da casa do Farid. No terreno do avô do Mário e da Maria do Carmo Paschoal.

Haja fôlego!

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 04/10/2012
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