Todo dia ela faz tudo diferente- Uma reflexão sobre a mudança.

Quando era criança eu ouvia a minha mãe cantarolando aquela música do Chico Buarque: “Todo dia ela faz tudo sempre igual e acorda a seis horas da manhã...” Sentia um misto entre tristeza e alegria que não sabia definir.

O dia era sempre diferente, mas ela fazia sempre igual. Não existe nada que me fale mais sobre apego do que essa música. O apego maior daquela personagem não era a um objeto ou a uma pessoa, mas aos seus hábitos. Eu me lembrei dessa música ontem e me perguntei: Por que a gente se apega, hein? Por que a gente senta sempre do mesmo lado da mesa? Escolhe o mesmo prato do cardápio do restaurante? Desabafa com a mesma pessoa? Frequenta o mesmo médico? Continua no mesmo emprego? Por que diabos a gente insiste com situações que sabe que não vão dar em nada? Por que a gente repete os mesmos comportamentos?

Por muitos anos a minha vida era um filme que não avançava, mudava os nomes dos personagens, mas os dilemas continuavam ali firmes. Nem pra sofrer eu tinha criatividade, até o plano era o mesmo e para variar estava inacabado, faltava ação para completá-lo.

Sempre soube qual era o meu medo de mudar: Se a minha vida era uma merda e em muitos momentos ela foi, pelo menos era uma merda que eu conhecia. O novo parecia sempre um pulo em um abismo desconhecido, por melhores frutos que me desse, me tiraria da rotina.

Só para não perder o hábito de citar musicas: “Um belo dia eu decidi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer, me despedir dessa vida vulgar...” Não me lembro ao certo o momento do basta, mas eu sei que foi em uma época que eu estava cansada de sofrer, de chorar, de repetir o mesmo comportamento piegas, foi ai que eu resolvi me desapegar do passado e caminhar.

Mas a mudança apesar de ser um processo mágico, não é automática. È preciso se conhecer, remexer nos sonhos, nas frustrações, se livrar da culpa que REALMENTE não serve pra nada. Só pra constar: Mudar dói horrores. Li uma reportagem na revista Vida Simples – QUE EU ADORO- que fala sobre isso: A reportagem chama Desapego na Raça e mostra que organizar gavetas não é só um ato físico, mas principalmente um processo psicológico. A matéria propõe o desafio de se livrar de cinqüenta objetos em duas semanas, para você poder colher os resultados da mudança.

Depois de abrir a primeira gaveta eu dei total razão para a reportagem. Não estava fazendo uma simples arrumação e sim uma sessão de terapia. O simples fato de abrir o armário e me propor a arrumá-lo era uma forma de entrar em contato com a minha vida. Não a vida que eu idealizei a minha vida real: com meus sapatos descorados, minhas blusas sem botão, meus extratos bancários, ao lado de roupas novas ainda com etiquetas. Aquilo me pareceu um extremo absurdo: Por que eu me enganei daquela forma?

Essa faxina não me fez só colocar os objetos no lugar, mas me fez descobrir o que me faz juntar coisas. Eu tive que ser extremamente verdadeira para mim mesma e dizer: Não vou usar esse texto, não vou ler esse livro, definitivamente não vou vestir essa roupa. Só Deus sabe a coragem que eu tive para me livrar de todas essas antiguidades e ainda tenho. A minha impressão é que nunca meu armário vai estar pronto. O que importa é que eu avancei e fico feliz de olhar para as minhas coisas e posso até me dar ao luxo de cantar de forma diferente aquela música do Chico: Todo dia ela faz tudo diferente e nunca tem horário certo para acordar.

Débora Ramos
Enviado por Débora Ramos em 04/10/2012
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