LIVRE E SOLTO

Luiz Celso de Matos

Por mais de cinco décadas fui, contra minha vontade, obrigado, a sair do conforto de meu lar, com sol ou chuva, calor ou frio, enfrentar enormes filas, para então, exercer o meu dever cívico de votar. Após a via-crucis, a importante decisão de não votar em jacarés, palhaços, repórteres policiais de rádio ou TV, distribuidores de supositórios, dentaduras frouxas; e votar no menos canastrão;

Por mais de cinco décadas constatei que muitos dos candidatos que foram merecedores do meu voto, ganharam a eleição. Portanto uma grande fatia dos eleitores comungavam da mesma esperança de melhora que eu tinha, na vitória dos menos incompetentes e safados;

Por mais de cinco décadas só, com raras exceções, verifiquei a prática do venha a mim o meu reino; mensalões e dinheiros em cuecas sujas;

Por mais de cinco décadas ouvi, em vão, as promessas de melhora nos campos da saúde e da educação; aumento de empregos, término da violência e atendimento hospitalar aos dependentes químicos;

Por mais de cinco décadas, perdi minutos importantes em canais de importantes informações para ver desdentados e analfabetos funcionais defronte às câmeras suplicando votos;

Por mais de cinco décadas me envergonhei com os bizarros nomes de candidatos:

Zé da Cana, Maria do Panelão, Zé da Marmita Quente, Maria da Torcida do Raul Gil,

Pastor dos Milagres...

Hoje, brasileiros e brasileiras, companheiros e companheiras... ufa! Estou, por força da minha idade, livre e descomprometido de compactuar com a inutilidade, com os irrealizáveis projetos de interesses sociais. Resta-me, no entanto, o mínimo de patriotismo, para elevar minhas preces ao Criador e rogar pela sanidade, decência e seletividade dos candidatos políticos e melhora intelectual na massa cinzenta dos eleitores. Meus sinceros votos de que o povo brasileiro leia, leia e leia; nem que seja horóscopo de jornais de quinta categoria.

terça-feira, 2 de outubro de 2012