O Homem-sem-nome
O Homem-sem-nome chegou-se perto do coração abriu as mãos e olhou-a nos olhos e antes que acabasse o dia segurou-lhe pela postura e espantou a noite com palavras inaudíveis.
O Homem-sem-nome chegou-se com a coragem para lhe sentir o calor e lhe tocar dedo-a-dedo aquilo que o medo rima sem voz.
O Homem-sem-nome conhece o caminho que a distancia emapa, sabe do seu corpo alvo regurgitado pelos seus sonhos e adormecido pelos seus pesadelos. Ele cava os sonhos pela silenciada da madrugada apomarando um jardim de mil rosas coloridas e só não leva na mão uma ou duas porque ficou na duvida de qual cor ela iria gostar mais -resolveu dar-lhe o roseiral inteiro!- assim fez no espanto.
Depois veio o dia e o Sol e veio com ele a bruma ensolarada pregas dos cortinados sobre os seus olhos, uma ventana isolada tornada Norte ou outro ponto Cardeal. Ai que o Homem-sem-nome desarvora duma torrente cascatosa, desses enormes afluentes dum Amazonas; ai que as saudades alimentam a enxurrada de um Janeiro chuvoso e de la da Barra, Copacabana e insolentemente frigida; ai que as chuvas do Verão assolam o molhado da alma e o Homem-sem-nome ama, ama, ama...
Barda uma infâmia que nem os cães escutam, grava uma fita sem tape, delega uma afronta ao destino aqui num sobrado debaixo de um guarda-sol, rima uma skoll que na goela se alegra num sonho declamado por Jeff Buckley:
I'm lying in my bed
The blanket is warm
This body will never be
Safe from harm
Still feel your hair
Black ribbons of coal
Touch my skin
To keep me whole....
Oh...if only you'd come back to me...
Cirandas meninas, cigarras sinfônicas, crianças pelos joelhos e esta alegria familiar de me ajoelhar aos baixinhos e jogar uma pipa ao ar!
Da terra deixou o corpo numa armadura enfeitiçada, do tempo enterrou o passado, do futuro procura a liberdade e onde habitam gentes sem trilhos ele habita inteiro na solidão de ser uma comedia, um poema de Neruda, uma cancão de solteirismo porque o Homem-sem-nome e um pajem da vontade endiabrada de lhe ver urgente...
O amor desterra, a ignorância prospera, as espermatopeias rejubilam nestes sambas amulatados que de la das florestas ela e filha do tempo...
Madrasta, palavra desoladora, ciclo de que não lembra a vida nem a vitoria, mãe e outra palavra sem modos, e eu Homem-sem-nome
fui feliz ali onde o teu beijo povoou a minha alma e te perdi numa imensa alvorada!
O prologo combina com um fim, tu combinas com o inicio...
Dos queixos corre um rio...
tal fio escorre
num visco alumiado pela vela
e no reflexo do quarto desenha uma estrela.
Na tira do cômodo balança um relógio;
nas formas nuas ofega uma mulher,
no desarrumado da cama estende-se um corpo
e do lado de cá um suspiro
entre eles uma leviandade
o bruxo
o feiticeiro
o caminho fátuo
um brilho para la do espaço
tu alumiadora candeia de azeite
perfumes odores
Jasmins...
Ali, audaz por toda a nudez tua
se estirou alambazado
te chamou de mulher
te olhou
pagou
e nunca esqueceu
...
olhou e fez um jesto sentido
de quem saciou e se levanta
e parte...
Paulo Martins